Sonda BepiColombo, que tem tecnologia portuguesa, já enviou imagens de Mercúrio
São as primeiras imagens de Mercúrio enviadas pela BepiColombo, a sonda da Agência Espacial Europeia e da japonesa Jaxa, lançada em 2018: a preto e branco, tiradas a 2418 quilómetros de distância do mais pequeno planeta do sistema solar.
Eram 23h44 (0h44 em Lisboa) quando a sonda espacial fotografou o planeta mais próximo do Sol, onde as temperaturas à superfície chegam a atingir os 450 graus. Dez minutos antes, a BepiColombo tinha passado a apenas 199 quilómetros de Mercúrio. "A região que a imagem mostra é o hemisfério norte de Mercúrio, incluindo a Planície de Sihtu, inundada por lavas. Uma área arredondada, mais suave e brilhante do que os seus arredores, caracteriza as planícies que circundam a cratera Calvino, chamada Planície de Rudaki", avançou a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), em comunicado.
Na imagem também se vê a "cratera Lermontov, com 166 km de largura, que parece brilhante porque contém características exclusivas de Mercúrio chamadas de "cavidades", onde os elementos voláteis escapam para o espaço", revelando "uma abertura onde ocorreram explosões vulcânicas". Características que a BepiColombo vai explorar quando estiver na órbita do planeta, o que está previsto apenas para 2025. Até lá, a sonda vai sobrevoar por seis vezes o planeta, que está a mais de 100 milhões de quilómetros da Terra.
Em rigor, o módulo BepiColombo é composto por duas sondas, enviadas para o espaço em outubro de 2018. Uma delas, a Sonda Planetária de Mercúrio, da ESA, tem por objetivo analisar a composição, topografia e morfologia do planeta. Já a segunda, a Sonda Magnetosférica de Mercúrio, da Jaxa, pretende estudar o ambiente e a magnetosfera do planeta, um dos menos conhecidos do sistema solar. Um dos enigmas para os quais a missão procura resposta é o facto de o planeta ter um campo magnético - é o único atualmente, no Sistema Solar, que partilha essa característica com a Terra.
Embora o campo magnético de Mercúrio, segundo a ESA, seja cem vezes mais fraco que o da Terra, não seria expectável que o tivesse, até atendendo ao pequeno tamanho do planeta.
A sonda conta com tecnologia desenvolvida pela Active Space Technologies (AST), empresa localizada em Taveiro (Coimbra), nomeadamente instrumentos que irão analisar os níveis de sódio da atmosfera, assim como uma estrutura de titânio de dois metros que suporta a antena de comunicação da nave, essencial para que os dados captados sejam enviados para os cientistas na Terra. A sonda conta ainda com um monitor de radiação desenvolvido por outra empresa nacional, a Efacec. Dadas as características singulares da missão, e face à proximidade do Sol, boa parte da tecnologia da BepiColombo foi criada especificamente para esta missão.
Assim chamada em homenagem ao cientista italiano Giuseppe Bepi Colombo, esta é a terceira missão espacial a ocupar-se do mais misterioso planeta do sistema solar, cuja proximidade do Sol torna muito difícil a investigação a partir da Terra. A primeira foi a Mariner, em 1973. Em 2004 foi a vez da sonda Messenger, também da NASA, tal como a primeira.