"Somos uma família em que um diz mata e o outro diz esfola"
Maria de Vasconcelos faz as canções, mas na hora de as gravar e levar pelo país, o agregado familiar está todo de acordo e faz a sua parte. Mathilde e Manon, as manas M., cantam e o marido, Xavier, encarna a personagem do pequeno e traquinas Mathias. "Somos uma família em que um diz mata e outro diz esfola", aceita a autora. É assim desde que saíram as primeiras Canções da Maria e continua a ser assim ao terceiro trabalho, o Especial História de Portugal, que chegou às prateleiras das lojas há uma semana e que há de transformar-se em espetáculo ao vivo.
Neste terceiro disco são 17 canções que vão dos primeiros povos que habitaram a Península Ibérica até à Implantação da República, quatro lengalengas (uma para cada dinastia) e um poema. Cada tema, e época histórica, são introduzidos pelas manas M., Mathilde e Manon, agora alunas do 8.º e 7.º ano, respetivamente. Continuam a ser as primeiras destinatárias do trabalho da mão. "Eles começa a dar isto no 3.º e 4.º anos, e depois voltam no 5.º. A Mathilde está a dar a terceira volta dos descobrimentos", explica.
Quando Maria de Vasconcelos começou a compor canções sobre os ditongos, no primeiro disco (2011), ou a propor truques cantados para decorar a tabuada, no segundo álbum (2013), as filhas estavam no 1º ciclo e foi a pensar nelas que pôs mãos à obra. "Às vezes, só consigo dizer a tabuada a cantar", diz Mathilde, entoando o rap do 7, 8 e 9.
"Tudo é mais fácil a cantar", defende a autora das letras e composições, todas elas revistas por professores da área. "Não sou historiadora, o que eu quero é mostrar a matéria de maneira divertida. Pode escapar-me alguma coisa, preciso sempre que alguém me oriente."
Neste caso, afirma, "havia coisas que já não me lembrava de todo, todinho", ri-se. Recorda também os manuais, que reviu agora, e os seus tempos de escola. "Fui muito boa aluna sempre, mas sempre detestei o esforço e ter de ser avaliada. Sempre adorei saber, mas o esforço e o stress da avaliação , apesar de sempre me ter saído bem, sempre detestei", confessa. Das filhas, "boas alunas", ouve, por vezes, "que a matéria parece que é para pessoas da nossa idade e não para a delas".
Psiquiatra de profissão, Maria de Vasconcelos foi, até nascer Mathilde, voz do programa da manhã da Rádio Comercial, com Pedro Ribeiro e Nuno Markl. O humorista é o autor dos desenhos das 126 personagens que ilustram telediscos e o recheado booklet deste Especial História de Portugal, que há um ano começou a ganhar forma.
Há uma semana apresentaram o trabalho numa sala de cinema Cascaishopping - uma explicação da História de Portugal em 66 minutos "como se fosse um documentário musical", precisa. "O DVD dá para ver do princípio ao fim", acrescenta Xavier Colette. O próximo passa são os espetáculos ao vivo , respondendo aos pedidos que têm sobre a mesa ("É ir consultando a página do Facebook").
"É fantástico fazer em família porque é isso: é em família. É um privilégio andar de um lado para o outro juntos. Se fosse só eu não tinha metade da graça", explica a autora das canções. "Para já, porque não tinha mesmo metade de graça. Quem tem graça são a Mathilde e a Manon. Por muito boas que sejam as canções, por muito boa que seja a obra ra, como lhe chamo, o que tem graça é as pessoas irem vendo [as crianças] crescer e acompanhando", defende, agradecendo. "Costumo dizer e vou voltar a repetir: é graças a todas as famílias que gostam de nós, que a nossa família pode continuar a fazer estas coisas".
Fica no ar outro projeto: o musical. "Só não sei como íamos fazer para mudar de roupa tão depressa", brinca Maria de Vasconcelos, com enquanto a filha mais velha acena em sinal de concordância.
Para discos também há planos. "Há sempre listas muito aborrecidas para decorar...", diz Maria. Manon dá um exemplo: "Minerais, rochas...". "Dos produtos que vieram dos descobrimentos. Ou, a português, pronomes...", completa a mãe. " Tenho muitas canções do corpo humano. Se calhar, a partir de agora lançamos especiais."