Soluções precisam-se para a falta de professores
Muito se tem falado ultimamente sobre a falta de professores. Até ao final da década pode ser necessário formar mais de 30 mil. Parece, nesta altura, óbvio que nem o sistema de ensino superior está preparado para tanto, nem o interesse dos jovens pela área parece justificar grandes preocupações de criar vagas que poderão ficar por preencher. Colocar o ónus desta falta nas instituições de ensino superior é não querer ver o óbvio. Ainda que esteja certo, que mais uma vez os politécnicos e as universidades irão responder a este desafio, ele pode não ter, do lado dos jovens, a resposta desejada e necessária.
A falta de atratividade da profissão, com excesso de incertezas, precariedade, baixos salários e demasiada ocupação, são fatores que têm afastado os jovens desta opção. Por outro lado, a falta de poder que se instalou na sala de aulas, com os estudantes e os pais a mandarem muitas vezes mais que os professores, também não contribuem para essa atratividade que necessitamos de gerar. Sem desculpar os sucessivos governos que pouco fizeram para reverter a situação, não será despiciente a imagem que socialmente têm dado os representantes da profissão. Importa que os professores percebam que precisam de dar uma nova imagem da sua profissão, provavelmente elegendo para porta-voz os que ainda sabem o que é ensinar em sala de aulas. É urgente alterar a forma como chegam à opinião pública, para que os jovens queiram optar por esta área. O professor tem de ser uma figura próxima, um "vizinho", alguém da comunidade que conhece "tudo e todos" e que sabe como ajudar a acrescentar competência para os desafios que a vida gera. O professor não pode ser alguém que diariamente faz dezenas de quilómetros para ensinar, ou que vem à segunda-feira e parte à sexta-feira, que nada sabe da comunidade dos seus alunos, pois sistematicamente muda de escola e de alunos.
CitaçãocitacaoNão nos esqueçamos de que são os professores, todos eles, que ensinam e formam para todas as outras profissões. Não há médicos, engenheiros, arquitetos, etc., se antes não houver professores.esquerda
Mas hoje discutimos a falta de professores da mesma forma que há muito pouco tempo discutíamos o desemprego na profissão. Não passaram muitos anos desde que ouvíamos os representantes do setor acusarem os governos de, anualmente, ficarem professores desempregados. Talvez valha a pena perceber como mudamos de lado e como os professores passaram de um bem excedentário a um bem escasso.
Mas partindo do princípio de que as instituições de ensino superior estariam disponíveis para aumentar a resposta e formar mais gente, lembremo-nos de que isso só é possível também com mais professores no ensino superior e com mais atratividade no setor. É preciso também aqui reduzir a carga de trabalho a que os professores do ensino superior estão sujeitos e que, há demasiado tempo, está no seu máximo, por falta de financiamento que a permita aliviar. Também aqui é preciso formar mais profissionais e tornar a profissão mais atrativa. A exigência académica que o setor obriga, e bem, a um mínimo de 10 anos de estudo, para se obterem os graus de licenciado, mestre e doutor (este último obtido obrigatoriamente numa universidade, muitas vezes longe de casa), para só depois se poder ingressar na carreira, merece mais compensação, nomeadamente nas condições de trabalho.
Não nos esqueçamos de que são os professores, todos eles, que ensinam e formam para todas as outras profissões. Não há médicos, engenheiros, arquitetos, etc., se antes não houver professores.
Presidente do Instituto Politécnico de Coimbra