Solidários no sofrer. Solidários na vitória
A pandemia, a que nenhum país parece escapar, com contágio rápido e difuso, trouxe uma nova forma de encarar os problemas da vida. Antes, tudo se resumia a situações em que uns perdiam e outros ganhavam: ganhavam os comerciantes quando aumentavam os preços, perdiam os consumidores ao gastar mais ou deixavam de comprar. Havia situações de necessidades inadiáveis, como os fármacos, ganhando saúde e capacidade de trabalhar, pagando o que fosse; a vantagem era partilhada.
Agora, estamos perante isto: todos perdemos! E o cerne da questão é como perder o menos possível? Isso faz encarar cada pessoa como elemento fulcral para a optimização (mínimo de mortes) no conjunto. Todos somos igualmente protagonistas de alto valor, para evitar o contágio, difusão e morte.
Tem de se ser responsável e solidário no executar das decisões. Ao haver relação direta entre as pessoas e as ocupações, estas pararam com o lockdown.
Não há remédios ou levarão tempo a ser descobertos. Não há vacinas. Só o isolamento, para evitar o vírus. É natural que se dê o contágio mais tarde, mas entretanto ganha-se tempo e o fluxo de doentes é mais distribuído, com melhor atenção nos hospitais
Há solidariedade por sermos interdependentes: todos temos de estar em uníssono e seguir as prescrições para evitar ser contagiados. A primeira urgência é salvar o máximo de vidas.
É estimulante ver manifestações generosas de muitas Instituições a darem o seu contributo, sem fronteiras, entre elas:
- O Chief Minister de Delhi anunciou que em 345 escolas da grande cidade seriam servidas refeições do almoço e jantar a todos os necessitados, sem se lhes perguntar donde são. Com o fecho das atividades, não há receitas para se poder adquirir os alimentos, no caso dos trabalhadores migrantes (os rickshaws e táxis estão parados, toda a construção civil e obras públicas também, as empresas industriais e de serviços idem, exceção de algumas para servir a população como farmácias, supermercados, etc.)
- A multinacional indiana OYO anunciou que, nos Estados Unidos, o pessoal de assistência sanitária teria alojamento gratuto nos seus Hotéis, porque poderiam infetar a família se fossem dormir a casa;
- O Grupo Taj Hotels oferece gratuitamente refeições a todo o pessoal sanitário dos hospitais públicos.
- Cuba mandou médicos para a Itália ultrapassar a sua crise aguda, etc...
Cada instituição, pública ou privada, sentiu a responsabilidade pelos que estão mobilizados, e pelos que mais duramente sentem os efeitos. Mais eficaz nesta luta tornou-se a pessoa de limpeza ou de entrega de víveres, o empregado da farmácia, do que o dono de um Banco.
Quando o vírus estiver debelado, pensaremos como recuperar a economia. Temos de imaginar como implicar todos, fazendo emergir um novo modelo de convivência, baseado na interdependência solidária vivida. Derrubando muros de riqueza, de nobreza ou de castas, pois o vírus derrubou-os todos. Estamos no mesmo barco e queremos otimizar os resultados após a crise.
O modelo deverá contemplar dois fatores importantes:
- A eliminação de corruptos, muitas vezes burocratas com uma longa cadeia de implicados (e empresas multinacionais ou locais a corromper), que mata a eficácia das políticas orientadas para os mais vulneráveis . A corrupção é o maior sorvedouro de dinheiro, opondo-se à criação de riqueza.
Verguese Kurien, Chaiman da Federação de Cooperativas (que detém a marca AMUL), com longa experiência em empoderar os agricultores, escrevia:
"Os patifes, que durante décadas exploraram tanto os agricultores, por um lado, quanto os consumidores, por outro, aguardavam ansiosamente que o nosso projeto de óleos alimentares falhasse. (...) Por fim, foram eles que tombaram. Tenho a certeza de que os deixei infelizes, mas para mim era muito mais importante que pudesse beneficiar centenas de milhares de agricultores de oleaginosas". Este fenómeno existe também nos países industriais e de serviços, do Ocidente rico. Há sanguessugas em todos os ambientes!
- Deve enfatizar a criação de riqueza, premiando a iniciativa e a produtividade, refletindo o "todos precisamos de todos", todas as atividades. Mesmo as less-skilled são importantes e devem ser pagas com sentido de justiça; o modelo deve ser inclusivo, pensando nos mais vulneráveis.
Veio o lockdown, que todos entenderam e abraçaram. Tudo parou, com custos para todos. A retomada económica é tarefa de todos, devendo ser desenhada para todos serem ganhadores. Será a ocasião histórica de repensar a convivência social, dando séria atenção à eliminação da pobreza, aos sem-abrigo e aos que não tem o suficiente para uma vida humana digna.
Professor da AESE - Business School