Soft power e projeção de poder internacional

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Durante séculos, a relevância das nações nas relações internacionais era aferida essencialmente a partir do seu poder económico e militar, sendo este hard power exercido tradicionalmente através de formas de coerção várias. Essas manifestações de poder bruto não desapareceram (pelo contrário), mas têm vindo a ser mescladas com exercícios de soft power, entendido este como a capacidade de atração e persuasão positivas para atingir os objetivos da política externa, assente fundamentalmente no potencial atrativo da cultura de um país, dos seus valores políticos e das suas políticas. Joseph Nye, o melhor teorizador do conceito, desenvolveu-o tendo em mente os EUA e o que considerava ser necessário para a manutenção da sua grande influência no mundo. Não obstante considerar que o hard power é essencial, Nye argumenta que tal não garante o êxito em política internacional e, por vezes, mina em vez de potenciar as metas que se pretendem atingir. Para as atingir, Nye sustenta ser necessário promover noutros países uma admiração pelos valores políticos e culturais da potência de referência, a aspiração de atingir o seu nível de prosperidade e, em geral, o seu estilo de vida. Esta teoria ganhou seguidores nos EUA e em muitos outros países, tendo levado a tentativas de mensurar o soft power. São disso exemplo os relatórios SP30 e os Monocle Soft Power Surveys, organizados de acordo com vários critérios, incluindo cultura, governo, diplomacia, educação, negócios/inovação, digital e outros.

O soft power dos países ocidentais, em especial dos EUA, tem sido incontestavelmente eficiente, com os valores da liberdade, da democracia, dos direitos humanos, a serem projetados em todos os continentes de um planeta globalizado. A consagração do inglês como nova língua veicular mundial, a forte penetração da produção cinematográfica, televisiva e musical ocidentais, a elevada procura por universidades dos principais países ocidentais, a capacidade de inovação, são manifestações que atestam a enormíssima relevância do soft power ocidental.

Num mundo cada vez mais multipolar, a ascensão de novas potências emergentes traz ínsita uma vontade de projeção internacional. Muitas destas novas potências parecem ter aspirações a projetar o seu poder essencialmente em termos regionais (Brasil, México, Nigéria, Coreia do Sul, Arábia Saudita). Outras aspiram a projetar o seu soft power a nível global (China, Índia, Rússia). No caso da China e da Índia, o seu soft power é sustentado pelas riquíssimas heranças civilizacionais e notáveis culturas. O seu soft power é assinalável ainda antes de se tornarem grandes potências económicas. Da popularidade de yoga, ayurveda ou tai chi à expansão das respetivas gastronomias, das escolas de pensamento que há milénios ensinam ser necessário o homem respeitar e integrar-se com a natureza à forte afirmação de produção cinematográfica, televisiva e musical assente nas respetivas culturas. Mais recentemente, existem novas facetas do soft power da China e da Índia - a capacidade de inovação tecnológica e a internacionalização das suas empresas.
O potencial de ambas as nações para expandirem o seu soft power é enorme. Resta saber se conseguem ultrapassar os fatores que ainda inibem a libertação dos vastos talentos das suas sociedades civis.

Consultor financeiro e business developer
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