Sócrates chamado a depor no processo Portucale
Só o Conselho de Estado autoriza audição de Coelho
José Sócrates, Manuel Pinho e Jorge Coelho vão ser chamados a depor no âmbito do processo Portucale, onde está em causa a suspeita de tráfico de influências para a aprovação de um empreendimento turístico do Grupo Espírito Santo (GES), em Benavente, entre os anos de 2004 e 2005. O primeiro-ministro, o ministro da Economia e o ex-ministro de Guterres serão ouvidos na qualidade de testemunhas.
Esta é a primeira vez que estes três nomes são relacionados com o caso, sempre como testemunhas, após a notícia de ontem à tarde do Expresso Online. No mês passado, o JN já tinha dado conta de desenvolvimentos fruto da intenção de Luís Sequeira, professor do ensino secundário em Coimbra, em reabrir o processo que ficou conhecido como "caso Portucale". Sequeira fez-se assistente do processo e remeteu ao Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa um pedido de abertura da instrução.
O requerente pede ainda que Paulo Portas, deputado e presidente do CDS/PP, e Miguel Relvas, deputado e ex-secretário-geral do PSD, sejam constituídos arguidos. Sobre estes dois deputados, Luís Sequeira quer que na fase de instrução lhes seja imputado o crime de tráfico de influências.
Ao DN, Miguel Relvas diz que "ontem como hoje estou sempre tranquilo" face aos novos desenvolvimentos. Relvas, tal como Telmo Correia (deputado do CDS e ex-ministro do Turismo), foi já ouvido como testemunha e a juíza Cândida Almeida terá, segundo fontes parlamentares, escrito na carta que enviou ao Parlamento que não havia a menor suspeita sobre os dois. Por opção, Relvas e Telmo, em vez de responderem por escrito, prestaram declarações em sede de tribunal.
Já sobre Sócrates e Pinho, o requerimento de abertura de instrução pede para que sejam ouvidos por causa de duas conversas telefónicas entre Manuel Espírito Santo, vice-presidente do GES, e José Manuel de Sousa, administrador do mesmo grupo. Nas escutas, há alegadamente referências a acordos com a cúpula do Governo PS sobre a Portucale, citando o primeiro-ministro e o ministro.
O nome de Jorge Coelho é visado em várias escutas que foram feitas a Abel Pinheiro, ex-dirigente do CDS já acusado de tráfico de influências, Luís Nobre Guedes (ex-ministro do Ambiente) e a Miguel Relvas. Os três dizem que Coelho poderia fazer a ligação com o novo Governo.
Ao DN, Jorge Coelho diz que conhece Abel Pinheiro "há 20 e tal anos" e que passa "a vida a depor". O ex-ministro desconhece "quaisquer pormenores", já que "nunca soube do assunto". O ex-ministro é conselheiro de Estado e só com uma autorização do órgão de consulta do Presidente da República poderá prestar declarações: "Saí do Governo há sete anos e esse processo já foi investigado pelas instituições competentes."