Sociedade Portuguesa de Pneumologia revela condições favoráveis para "tempestade perfeita"
A atual circulação, própria desta época do ano, dos vírus que provocam Covid 19, gripe e as bronquiolites agudas e pneumonias é a "tempestade perfeita" para potenciar fatores de risco nos doentes crónicas. Esta é uma das conclusões da iniciativa organizada pela Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardiaca (AADIC), Respira - Associação de Pessoas com DPOC e outras Doenças Respiratórias Crónicas e Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) e transmitida online esta quarta-feira (6 dezembro) na página do Diário de Notícias.
A médica Paula Pinto, vice-presidente da SPP explicou "que a incapacidade de resposta dos sistemas imunitários mais fragilizados aos vírus agudiza sintomas das próprias doenças levando ao aumento considerável de hospitalizações e recurso a cuidados intensivos ou, em casos extremos, ao aumento de mortalidade". Antes do quadro clínico demonstrado pela pneumologista, já Neuza Teixeira, diretora médica da GSK Portugal, referia-se aos impactos significativos provocados pelo aumento simultâneo dos vírus vSARS-CoV-2 que provoca a Covid, do Influenza da gripe e do Vírus Sincicial Respiratório. "Há neste momento uma necessidade de maior atenção e esforço coletivo para prevenir e aprofundar o conhecimento do atual contexto da tripla epidemia, o que realça a urgência da resposta e de aumentarmos a discussão sobre o assunto".
O vírus desconhecido que passou a ter vacina
Particularmente discutido e referenciado nesta discussão entre médicos e associações de doentes, foi o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) clinicamente conhecido até há pouco como causador de bronquiolites e pneumonias em crianças. Até ao período da pandemia este agente infecioso era pouco estudado, mas sabe-se já que o VSR contribui para os internamentos de idosos, sobretudo a partir dos 50/60 anos. Até aqui, o Sincicial Respiratório era dos três vírus da Epidemia Tripla o único que não tinha vacina, mas, entretanto, já foi aprovada a nível europeu a entrada no mercado da substância que o combate. "Desde 1 outubro passou a estar disponível uma vacina para o VSR e isso é importante porque é um vírus muito contagioso. Alguém infetado pode contagiar, pelo menos, mais três pessoas", esclareceu a dirigente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia alertando para os quadros menos graves que idosos com doenças crónicas podem enfrentar se atingidos pelo Vírus Sincicial Respiratório. Paula Pinto confirmou, para agrado dos representantes dos doentes, que a SPP em colaboração com as sociedades de pneumologia, cardiologia, diabetologia, medicina interna, medicina geral e familiar e infeciologia estão a elaborar as guidelines nacionais para recomendar e promover junto do Ministério da Saúde e da DGS a vacinação. "O documento servirá para demonstrar as mais valias e propor a entrada no Plano Nacional de Vacinação e respetiva comparticipação. Sabemos que a vacina tem uma eficácia que pode chegar a 95% nas pessoas com mais de 60 anos e com pelo menos uma doença crónica".
Doentes exigem profissionais informados
Doente pulmonar obstrutivo crónico, José Albino, da Associação Respira, ao tomar conhecimento dos avanços em termos de prevenção exortou de imediato os médicos dos cuidados primários de saúde a estarem mais informados para melhor alertarem a população sobre o combate ao VSR. "Existe bastante informação disponível sobre a Covid 19 e a gripe, mas pouco se sabe sobre esta infeção que pode ser prevenível com vacinação".
Albino aguarda ansiosamente a entrada da novidade em Portugal esperando que seja breve e de distribuição gratuita à semelhança do que acontece com a vacina para a Covid 19 e para a gripe. Admitiu, como já aconteceu em outras ocasiões, reivindicar e pressionar o poder político. O dirigente recordou que a Respira sempre lutou para que os associados tivessem as melhores práticas clínicas, não só na fase aguda, mas muito especialmente na fase preventiva. "É mais importante a pessoa não adquirir a doença do que a curar". As preocupações com os insuficientes cardíacos e os gastos em saúde foram pontos abordados por Luis Filipe Pereira, economista que liderou a saúde em Portugal quando Durão Barroso e Santana Lopes chefiaram o governo. O antigo ministro na qualidade de presidente da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca secundado pela cardiologista Maria José Rebocho da Conselho Técnico-Cientifico da AADIC enumerou estudos e a necessidade de dedicar recursos às diversas formas de prevenção da doença demonstrando a relação custo beneficio. Irónico, Luis Filipe Pereira rematou dizendo que "Portugal tem na realidade o Ministério da Doença e não tanto o Ministério da Saúde".
Medidas de Prevenção
Entre as muitas medidas do Plano de Contingência da DGS para este inverno e considerado "muito bem elaborado" pela vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, Paula Pinto destaca três recomendações para idosos com doença crónica:
- Evitar aglomerados, assim como saídas para o exterior de casa quando as temperaturas estão extremamente baixas;
- Respeitar a etiqueta respiratória colocando o cotovelo à frente da boca em caso de tosse
- Nunca esquecer o uso de máscara.