Sob ameaça, futura rainha dos Países Baixos vive enclausurada no palácio

Amalia, de 18 anos, entrou na Universidade de Amesterdão e preparava-se para ir viver numa residência estudantil. Até que escutas intercetadas dos grupos de crime organizado obrigaram os reis a manter a princesa sob vigilância no palácio
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A princesa e herdeira da coroa neerlandesa, Amalia, foi forçada a abandonar os planos de morar em residências estudantis por razões de segurança, numa medida que levantou novos temores sobre o crime organizado nos Países Baixos.

O rei Willem-Alexander e sua mulher, a rainha Máxima, anunciaram na quinta-feira - apenas algumas semanas depois de a jovem de 18 anos ter começado as aulas na Universidade de Amesterdão - que Amalia terá que ficar atrás dos muros do palácio.

As autoridades não confirmaram detalhes, mas a medida ocorre semanas depois de relatos de que Amalia e o primeiro-ministro Mark Rutte foram mencionados em comunicações de grupos do crime organizado, levantando receios de que estivessem a ser planeados sequestros.

A rainha Máxima, natural da Argentina, disse que a medida tem "enormes consequências" para a sua filha, tendo sido um choque num país onde figuras públicas costumam movimentar-se com grande liberdade e sem necessidade de proteção especial.

Os especialistas em segurança dizem que esta é uma medida que reforça os temores de que os Países Baixos estejam a tornar-se num "narco-Estado" após uma série de casos envolvendo grupos de tráfico de drogas.

"O que está em causa é uma jovem de 18 anos que não pode ter uma vida estudantil normal porque aparentemente é o alvo da Mocro-máfia", comentou à AFP Rick Evers, um repórter neerlandês especializado em assuntos reais.

A Mocro-máfia é o termo utilizado para descrever gangues criminosos de origem marroquina especializados no comércio de drogas, principalmente cocaína, e que têm forte presença identificada no Benelux [Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo], utilizando a Península Ibérica como rota de tráfico.

A herdeira do trono neerlandês foi captada com ar radiante pelas lentes dos fotógrafos quando começou a frequentar universidade no mês passado, tendo sido dado destaque ao facto de Amalia planear morar em residências estudantis.

Mas numa uma visita de Estado à Suécia na quinta-feira, os reis dos Países Baixos revelaram que Amalia foi forçada a permanecer no palácio real, sob fortes medidas de segurança, em Haia, depois da revelação de que o seu nome tinha sido escutado em comunicações intercetadas dos grupos ligados à Mocro-máfia.

Questionada sobre como estava Amalia a adaptar-se à nova vida estudante, a rainha Máxima, claramente emocionada, respondeu à impensa: "Vocês devem ter ouvido a notícia. Ela não pode morar em Amsterdão e não pode realmente sair (do palácio)... Isso tem enormes consequências na sua vida", lamentou.

O primeiro-ministro Rutte - até recentemente visto com frequência a andar de bicicleta por Haia - descreveu a situação de Amalia como "terrível e preocupante". "Tudo está a ser feito para manter a princesa herdeira segura", disse esta sexta-feira.

O ministro neerlandês da Justiça e Segurança, Dilan Yesilgoz-Zegerius, descreveu o crime organizado como um "problema fundamental", acrescentando que o seu ministério estava "a trabalhar arduamente dia e noite para garantir a segurança".

Em setembro, o De Telegraaf, um dos principais jornais do país, deu a notícia de que a segurança havia sido significativamente reforçada em torno de Amalia e Rutte, depois de os nomes de ambos terem aparecido em comunicações do crime organizado, o que pode indicar planos para um ataque ou sequestro.

Ao mesmo tempo, os jornais neerlandeses noticiaram um maior escrutínio sobre as comunicações do suposto chefe da "Mocro-máfia", Ridouan Taghi, que está a ser julgado após o seu gangue ter surgido ligado a vários assassinatos de alto nível no país. Entre eles estão o do proeminente jornalista Peter R. de Vries, que foi morto a tiros em plena luz do dia numa rua de Amsterdão no ano passado, e de Derk Wiersum, advogado de uma testemunha de acusação.

Os acontecimentos reforçaram temores de que a quinta maior economia da Europa esteja gradualmente a inclinar-se para um narco-Estado, com criminosos a explorar as relaxadas políticas de drogas do país para enviar grandes quantidades de cocaína através do maior porto da Europa, em Roterdão.

A ameaça em torno da princesa "está a ser levada muito a sério pelas autoridades", disse a especialista em segurança Jelle van Buuren, da Universidade de Leiden.

"É uma situação muito anormal e incomum", diz o jornalista Rick Evers, à AFP. "O crime organizado é agora um tema importante que parece fora de controlo nos Países Baixos."

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