Só por uma vez houve segunda volta. E foi há 30 anos
As únicas eleições presidenciais da democracia portuguesa que obrigaram a uma segunda volta realizaram-se há 30 anos, entre Freitas do Amaral e Mário Soares, e duas décadas depois há candidatos que equacionam uma repetição de 1986.
Nas eleições de 26 de janeiro de 1986, Diogo Freitas do Amaral obteve 46,31% dos votos, Mário Soares 25,43%, Francisco Salgado Zenha 20,88% e Maria de Lurdes Pintasilgo 7,38%, e a abstenção foi de 24,62%.
Com este resultado, nenhum dos candidatos conseguiu mais de metade dos votos validamente expressos, o que obrigou a um segundo sufrágio, realizado a 16 de fevereiro de 1986, que Mário Soares venceu com 51,18% dos votos, contra 48,82% de Freitas do Amaral, e com a abstenção nos 22,01%.
Para as presidenciais de 24 de janeiro de 2016, algumas sondagens previram já a realização de uma segunda volta e deram como favorito nos dois sufrágios o candidato Marcelo Rebelo de Sousa (que conta com a recomendação de voto do PSD e do CDS-PP).
Entre a dezena de candidatos, António Sampaio da Nóvoa, que conta com o apoio dos antigos Presidentes da República António Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio e de militantes do Partido Socialista (PS), considerou estar "praticamente seguro" de uma segunda volta.
"Estamos praticamente seguros de que haverá segunda volta e na segunda volta são outras eleições", disse o ex-reitor da Universidade de Lisboa.
Marisa Matias, eurodeputada apoiada pelo Bloco de Esquerda (BE), defendeu que numa eventual segunda volta todos os candidatos ou candidatas de esquerda devem unir-se para derrotar a "candidatura da direita".
A candidata disse estar certa de que, se passar à segunda volta, todos os candidatos se unirão em torno da sua candidatura para "derrotar o candidato da direita".
Já Maria de Belém Roseira afirmou que espera contar com o apoio do PS, partido do qual é militante e que não deu indicação de voto aos militantes, numa eventual segunda volta das presidenciais.
"Estou convicta de que passarei a uma segunda volta e com uma recomendação à segunda volta", disse Maria de Belém Roseira, ex-presidente do PS e ministra de Governos socialistas, ao responder a uma pergunta sobre se esperava uma recomendação de voto do seu partido se houver segunda votação.
Questionado sobre se está convicto de uma vitória no dia 24 de janeiro que permita a eleição sem segunda volta, o candidato Marcelo Rebelo de Sousa respondeu ter a certeza de que na hora do voto os portugueses vão permitir que se "abra uma caminhada de cinco anos".
"Eu tenho, não uma expectativa mas uma certeza, de que os portugueses compreendem o passo que estamos a dar hoje [23 de dezembro, quando formalizou a candidatura junto do Tribunal Constitucional] e que na hora adequada votarão de acordo com a sua consciência, permitindo que se abra uma caminhada de cinco anos, que não é boa para uma pessoa, que não é boa para um grupo ou um partido, é boa para Portugal", disse.
Caso nenhum dos candidatos obtenha mais de metade dos votos validamente expressos, realiza-se uma segunda volta a 14 de fevereiro de 2016.
Neste eventual segundo sufrágio "concorrerão apenas os dois candidatos mais votados que não tenham retirado a candidatura", estabelece o número três do artigo 126.º da Constituição da República.
Concorrem às eleições presidenciais, a 24 de janeiro, Henrique Neto, Sampaio da Nóvoa, Cândido Ferreira, Edgar Silva, Jorge Sequeira, Vitorino Silva, conhecido por Tino de Rans, Marisa Matias, Maria de Belém Roseira, Marcelo Rebelo de Sousa e Paulo de Morais.
É a primeira vez na história da democracia que foram admitidas pelo Tribunal Constitucional dez candidaturas.
Até agora, tinha havido, no máximo, seis candidaturas a eleições presidenciais, em 1980, em 2006 e em 2011.