Só come palha porque é burro
A questão crucial do jornalismo é o seu financiamento. Desde 2009, mais de 1200 pessoas perderam o emprego em empresas de comunicação social. Há vários anos que toda a gente parte para o ano seguinte acreditando que vai ser melhor do que o anterior. O problema do financiamento do jornalismo nem sequer é português, é global. Por todo o mundo se despedem jornalistas e outros profissionais ligados à actividade. Por todo o mundo se fecham jornais e revistas ou se acaba com eles em papel para existirem mais "elegantes" no online, o mesmo é dizer para serem feitos com menos gente. Por todo o mundo se emagrecem redacções de rádios e televisões. A crise económica que se vive em Portugal, como noutros países, só veio agravar a dificuldade de adaptação a uma fonte de financiamento (anúncios publicitários) que a cada ano vale menos.
O erro mais básico que se cometeu no negócio da comunicação social foi o de pensar que era possível continuar a fazer o mesmo com muito menos dinheiro. Para muitos jornalistas isto nem sequer é um negócio, é uma missão. Mas, a ser assim, a realidade encarrega-se de mostrar que é, quando muito, uma missão suicida. Levamos mais de uma década a fazer duros ajustamentos, reduzindo ao mínimo o número de trabalhadores de empresas cujo produto que vendem é, quase exclusivamente, jornalismo. Enfiar a cabeça na areia não resolve coisa nenhuma, é preciso brio profissional na produção de outros conteúdos. É uma lei da vida que se aplica também às empresas de comunicação social. Sempre que se produzem alterações significativas, os que resistem são os que revelam mais capacidade de adaptação. A força de uma marca defende-se melhor com a produção de conteúdos patrocinados do que com a busca incessante de clicks em que até os gatinhos dão uma ajuda. Mas, ainda assim, qualquer uma é melhor do que não fazer nada e ver as marcas desaparecer. O comércio online é também uma porta por abrir em sites que atraem milhões de visitas. A competição entre empresas de comunicação social também já se faz pela rapidez com que se chega aos novos conteúdos e às novas fontes de financiamento. Quem não arrisca tentar e fica à espera de ver como funciona com os outros corre o maior dos riscos. O risco de morrer.
Não há democracia sem bom jornalismo, não há bom jornalismo sem dinheiro e não há dinheiro quando apenas existem preconceitos. O burro só come palha porque é o que lhe dão para comer. Se pudesse escolher, a dieta seria bastante mais variada.