SNS: "Na próxima década temos que recuperar o que não foi feito na última"
Uma década de dificuldades. Esta é a forma sucinta como Fernando Leal da Costa, Ministro da Saúde do XX Governo Constitucional, em 2015, resume o período entre 2012 e 2022. Do programa de ajustamento imposto pela Troika, entre 2011 e 2015, que limitou a ação do Governo a fazer pouco mais do que manter o Serviço Nacional de Saúde (SNS) "a funcionar como garantia de suporte social vital", à posterior gestão da pandemia, o atual diretor de hematologia do IPO de Lisboa fez, ao DN, um balanço do passado recente, com os olhos postos no futuro. O desafio de reflexão surge a propósito da 10ª Conferência Sustentabilidade em Saúde, promovida pela AbbVie e a que o DN e a TSF se associam, que decorrerá na próxima terça-feira, dia 3 de maio, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
"Na próxima década vamos ter de recuperar aquilo que não pudemos fazer nos dez anos anteriores", defende o ex-ministro, lamentando que o Governo que sucedeu o seu não tivesse aproveitado os cinco anos, entre Troika e Covid, para realizar reformas que continuam por fazer. "Quando se esperaria alguma melhoria, continua a haver, na verdade, uma grande contenção na nossa capacidade institucional de saúde que, com o corolário da pandemia, acabou por se tornar particularmente nefasto", salienta.
A falta de recursos financeiros, muitas vezes apontada como principal responsável pela ausência de reformas mais profundas na saúde é, na opinião de Leal da Costa, uma parcela relevante nesta equação, não sendo, contudo, a mais importante. "É óbvio que tudo aquilo que tem sido feito, em termos de reforço orçamental, é bem-vindo, mas é insuficiente porque o SNS não tem sido melhorado nas suas estruturas assistenciais". O verdadeiro problema, aponta, é a falta de profissionais de saúde, que não têm capacidade para dar resposta ao aumento de procura que se verifica nos diferentes serviços. "Temos uma perda muito significativa de quadros que o SNS forma e isso tem de ser invertido, pagando melhor e dando melhores condições de trabalho".
A limitação do acesso à formação em Medicina em Portugal, até há poucos anos impossível fora do ensino público, foi, para Fernando Leal da Costa, um erro pelo qual o país está agora a pagar o preço. "O ensino privado da Medicina chegou tarde a Portugal, mas felizmente chegou e chegou bem, ainda que o arranque, no meu ponto de vista, esteja demasiado mitigado". A esta falha acresce ainda a falta de competitividade salarial e de condições de trabalho face ao setor privado. "O que é que se pode fazer? Pagar melhor, dar melhores condições de trabalho e fazer tudo para não perder os profissionais que temos formados", conclui o ex-ministro.