Smiljan Radic, o arquiteto chileno que nunca quis ter uma assinatura

Chileno de origem croata, Smiljan Radic foi um dos arquitetos mais falados no verão de 2014 graças ao seu pavilhão pensado para os jardins da galeria Serpentine, em Londres. Hoje está em Lisboa para uma conferência que pode ser acompanhada em direto no site do DN.
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O arquiteto inaugura a edição deste ano das conferências "Distância Crítica" da Trienal de Arquitetura (TAL), em parceria com o Centro Cultural de Belém, hoje, às 19.00, e fala sobre relatos que materializam. "Algo que existe em relato e que se torna real em 3D", conta na primeira pessoa ao DN, por telefone, desde o Chile. Fala da Torre de Babel e da Arca de Noé, outros projetos que só estão no imaginário e ganham corpo. Ou de uma torre de copos que imaginou a partir de um texto de Oscar Wilde. "Toda a boa construção é a ilustração de uma convicção passageira. Tem um efeito civilizador", escreveu. "A imagem cola-se ao texto e torna-se a sua sombra", nota.

À beira dos 50 anos, vem a Lisboa falar do seu trabalho a partir de quatro projetos da sua autoria. Um deles é a instalação que levou à Bienal de Arquitetura de Veneza, em 2010, juntamente com a escultora Marcela Correa, sua mulher, após o terramoto chileno, em fevereiro desse ano. Chama-se The Boy Hidden in a Fish, a partir da obra com o mesmo nome de David Hockney.

O outro projeto incontornável é esse seixo claro, gigante e futurista, que esteve na Serpentine Gallery, em Londres, no verão de 2014 e assim levou o seu nome a um público mais vasto do que os arquitetos. Pedra ou nave espacial com paredes em fibra de vidro, jogava com as ilusões. "Quando as pessoas se aproximavam não sabiam se tinha espessura, se eram falsas", diz. A estrutura estava assente em pedras de formas irregulares. Foram escolhidas precisamente por serem imperfeitas.

Smiljan Radic já tinha usado este material em outro projeto, o restaurante Mestizo, no Chile, mas, garante, o seu papel em cada uma das obras é distinto. Integravam a paisagem na obra realizada no Chile, foram usadas em Londres como "uma coisa encontrada" no projeto de Londres", defende Smiljan Radic. "As pedras não é uma assinatura. Tentei toda a minha vida não ter uma assinatura", diz o arquiteto. "Uso-as conceputalmente. Como forma e não como material", frisa.

A sua vinda a Portugal é um regresso. Esteve em Portugal no início dos anos 90 (1992, pelas suas contas) no rasto de Siza Vieira, quando o português ainda não pertencia à constelação Pritzker nem tinha (também) criado um pavilhão para os jardins de Kensington. Smiljan Radic tinha pouco mais de 20 anos e entre a licenciatura em arquitetura em Santiago do Chile e a continuação dos estudos em Veneza viajou pelo sul da Europa, passou tempo na Grécia, foi a Istambul e à Índia. Só não esteve na Croácia, país de onde é originária a sua família paterna. Por causa da guerra. "Liam o meu apelido e ainda tinha de ficar lá", ironiza. Esteve anos depois e voltará em Outubro leva uma exposição do seu trabalho a Zagreb. A mesma que mostrou em Santiago do Chile e que levará a Tóquio em 2016).

Em Lisboa, as conferências Distância Crítica regressam a 14 de abril, com Bijoy Jain, fundador do Studio Mumbai, e a 11 de novembro com Jacob van Rijs, do atelier holandês MVRDV.

Leia mais na edição impressa ou na versão e-paper do DN e acompanhe a conferência em direto, a partir das 19.00.

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