Situação mais tranquila em Gaza mas "pode deteriorar-se"
A situação na Faixa de Gaza "pode deteriorar-se nos próximos dias", caso prossigam os confrontos, iniciadas na passada sexta-feira, entre os manifestantes palestinianos e as forças de segurança israelitas que já causaram 16 mortos e mais de 1400 feridos, 15 dos quais durante o dia de ontem. O aviso foi deixado por um alto funcionário das Nações Unidas, o diretor-adjunto para as questões políticas, Taye-Brook Zerihoun, que falava numa reunião do Conselho de Segurança expressamente convocado para analisar a mais recente escalada de tensões israelo-palestinianas.
Para aquele responsável político da ONU, "Israel deve cumprir as suas responsabilidades de acordo com os direitos humanos reconhecidos internacionalmente e segundo o direito humanitário. A força letal deve ser usada apenas como último recurso", disse Taye-Brook Zerihoun no decurso da reunião, pedida pelo Koweit na noite de sexta-feira e que devia ter decorrido à porta fechada. Acabou por ser pública quando se tornou evidente que os representantes diplomáticos dos cinco membros permanentes (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia), mais os representantes dos dez membros rotativos, não conseguiam chegar a acordo para uma declaração sobre os confrontos.
Na mesma reunião, o secretário-geral da ONU, António Guterres, salientou a importância de se realizar uma "investigação independente e transparente" aos confrontos.
Iniciados na sexta-feira em resultado da campanha organizada pelos islamitas do Hamas sob a designação de Grande Marcha do Regresso, a exigir o direito de regresso dos refugiados palestinianos aos territórios anexados por Israel, os confrontos foram particularmente violentos no primeiro dia. Prosseguiam ontem mas numa escala menor, continuando os manifestantes a lançarem engenhos explosivos, pedras e pneus incendiados na direção das forças israelitas, ao mesmo tempo que tentavam aproximar-se da barreira de segurança entre Gaza e o território de Israel.
O Hamas, assim como outra formação palestiniana ligada à campanha, a Jihad Islâmica, asseguraram que os protestos vão continuar, com um porta-voz do segundo grupo a explicar que o dia de ontem fora mais tranquilo por "ser dedicado a mostrar solidariedade às famílias dos mártires e a visitar feridos", disse Khaled al Batsh, segundo a televisão israelita i24.
A presente campanha possui um aspeto que a distingue de anteriores iniciativas da mesma natureza e dos recorrentes confrontos junto da barreira de segurança em Gaza. Nesta campanha, foi montada uma cidade de tendas para manter os manifestantes na área e estes fazem-se acompanhar pelas família, participando as mulheres e crianças nos protestos.
Perante a perspetiva de semanas consecutivas de confrontos violentos, um responsável das forças armadas de Israel, o general Ronen Manelis, deixou no ar a possibilidade de ações retaliatórias sobre o Hamas no território que este controla desde 2007. "Se a situação se prolongar, não teremos outra solução que responder com ataques contra alvos terroristas na Faixa de Gaza", disse o militar israelita citado pelas agências.
A campanha deve prolongar-se até 15 de maio, data da declaração de independência de Israel e que coincide com o dia em que os EUA abrirão a sua embaixada em Jerusalém, reconhecendo de facto a cidade como capital do Estado hebraico.