Sistema de aprendizagem é "segunda escolha" em Portugal - ministro do Trabalho

O ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social considera que ainda existem em Portugal entraves culturais ao ensino técnico e profissional, afirmando que é importante manter o caminho dos jovens aberto a todas as possibilidades.
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"Em relação às dificuldades do sistema de aprendizagem, a questão cultural tem um forte impacto. É ainda considerada como uma segunda escolha. Esta é uma dificuldade vivida em Portugal", afirmou José António Vieira da Silva, em Paris.

Participando numa conferência dedicada ao tema do sistema de aprendizagem e formação profissional na Europa, promovida pela delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris com o Instituto Notre Europe, o ministro português partilhou que apenas cerca de 8% dos jovens portugueses optam pelo sistema de aprendizagem após o ensino básico.

O sistema de aprendizagem consiste num horário partilhado entre o trabalho e formação numa empresa e aulas num centro de formação.

Além da questão cultural, o governante português sublinhou ainda que, ao contrário de outras economias onde o sistema de ensino em alternância funciona bem, se torna difícil ter ofertas atrativas numa economia constituída maioritariamente por pequenas e médias empresas (PME), como acontece em Portugal.

Apesar de considerar que este tipo de ensino tem virtudes, como "adaptação ao mercado de trabalho" e "a capacidade de integração de jovens que têm uma relação difícil com o sistema escolar tradicional", há também riscos.

"O maior risco é o da segregação, impedindo os jovens de continuar os estudos para adquirir apenas competências técnicas, em vez de continuar a desenvolver as suas capacidades académicas", referiu o ministro.

Vieira da Silva confessou ainda que as relações entre o Ministério da Educação, responsável pelo trajeto escolar tradicional, e o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, responsável pelo sistema de aprendizagem, nem sempre são fáceis.

"A gestão do sistema de aprendizagem é da responsabilidade do Ministério do Trabalho, porque estamos mais próximos das empresas, e o resto do sistema de ensino é gerido pelo Ministério da Educação e nem sempre é fácil fazer esta co-governação que é essencial para o país", reconheceu Vieira da Silva na capital francesa.

Para combater o preconceito cultural contra a via de ensino técnico, Pascal Hector, ministro plenipotenciário da Embaixada da Alemanha em França, também presente no debate, afirmou que mais de 50% dos jovens na Alemanha estão neste sistema dual entre escola e empresa e que a formação técnica não tem menos valor do que a formação académica.

"É preciso libertarmo-nos da falsa ideia de que uma formação universitária tem mais valor do que uma formação profissional, porque a formação profissional se adapta melhor às capacidades de cada um e, além disso, este tipo de formação também corresponde melhor às necessidades das empresas", disse ainda o diplomata alemão.

Na Alemanha, segundo Hector, um estudante do ensino técnico numa empresa ganha mais de 800 euros por mês, com apenas 30% do seu percurso escolar a acontecer na escola onde continua a ter disciplinas que lhe podem dar acesso a um percurso universitário.

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