Sírio que viveu mais de 100 dias em aeroporto detido na Malásia
Em 2006 Hassan al-Kontar foi trabalhar para os Emirados Árabes Unidos. Cinco anos depois, pouco após o início da guerra na Síria, o seu visto de trabalho expirou. Mas Hassan recusou fazer parte do conflito, afirmando ser um pacifista e relembrando a quantidade de jovens forçados a ingressar no exército sírio, apenas para morrer nas frentes de combate.
Decorridos vários anos a viver ilegalmente nos Emirados, o governo sírio e as autoridades locais tentaram deportá-lo para a Síria. Hassan protestou e foi então enviado para a Malásia com um visto de turista de três meses, uma vez que o país não aceita refugiados.
Expirados os três meses, procurou outros países que aceitassem sírios sem Visa, como é o caso do Equador, para onde comprou o bilhete de avião. Foi-lhe recusado o embarque e o reembolso do bilhete pela Turkish Airline, sem quaisquer explicações adicionais. E acabou por ser enviado de volta para Kuala Lumpur, em cujo aeroporto dormia desde 7 de março. Hassan al-Kontar tem usado as redes sociais para documentar a sua vida no aeroporto e iniciar uma campanha por asilo.
Esta terça-feira o chefe do departamento de imigração da Malásia confirmou que Hassan al-Kontar foi detido pela polícia por se encontrar permanentemente na zona de embarque do aeroporto de Kuala Lumpur. Segundo o mesmo oficial, Hassan seria entregue ao departamento de imigração após ser alvo de um interrogatório pela polícia malaia, que comunicaria depois com a embaixada Síria para concluir a sua deportação. Algumas fontes justificam esta detenção pela mediatização do caso, através das inúmeras publicações nas suas redes sociais, que alegadamente terão causado embaraço às autoridades malaias, acelerando o processo.
Não foram fornecidos mais detalhes sobre as razões da detenção ou sobre o local onde se encontra Hassan.
Num vídeo recente publicado pela CNN, Hassan al-Kontar explicou como passava os dias na Internet - a sua única forma de aceder ao resto do mundo.
"Preciso de um lugar seguro onde possa viver e trabalhar legalmente. A Síria está fora de questão, mesmo que fique aqui para sempre. Não quero fazer parte desta guerra. (...) Não é a minha guerra.", palavras citadas pelo The Guardian.
Este caso, entre vários semelhantes, são o espelho de um conflito que se arrasta desde março de 2011, quando surgiram protestos na cidade de Deera, pela defesa da democracia e contra o governo do presidente Bashar al-Assad.
A guerra civil foi alastrando e rapidamente se tornou num conflito de todos contra todos, com intervenções de potências externas, como os EUA ou a Rússia. Além do apoio dos grandes rivais regionais, Irão e Arábia Saudita, a diferentes fações.
O conflito potenciou o crescimento do grupo jihadista do Estado Islâmico, que chegou a controlar uma grande parte do território sírio, tendo, no entanto, vindo a perder força nos últimos meses.
Gerou-se uma crise humanitária que fez mais meio milhão de mortos, cinco milhões de refugiados e seis milhões de deslocados internos. Além de 13 milhões de pessoas a necessitar de ajuda humanitária, entre elas seis milhões de crianças.
Muitos nas gerações mais novas, como é o caso de Hassan al-Kontar de 36 anos, recusam regressar ao seu país de origem, sabendo que serão sempre considerados desertores, e por isso, traidores.
Até à data desconhece-se o paradeiro de Hassan, mas circula já na Internet uma petição com mais de 59 mil assinaturas que requer a Ahmed Hussen, o ministro da Imigração, Refugiados e Cidadania do Canadá (e ele próprio um refugiado somali), que o país receba Hassan sob o estatuto de refugiado.
Foram já angariados 17 mil dólares por voluntários para que este possa ser recebido condignamente em território canadiano.