Sintra perde 200 hectares

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Sintra viveu ontem "sete horas muito complicadas", desabafava Fernando Seara às oito da noite, já com o incêndio que ameaçou a serra dominado. O autarca acompanhou os trabalhos desde as 11 da manhã e não ganhou para o susto. "Assisti a projecções de fogo de 200 ou 300 metros", conta ao DN. Em Gouveia "foi preciso salvar pessoas, casas e só havia um helicóptero ligeiro", explica.

"O fogo começou em Pernigem, perto das 10.00 da manhã, e parecia fácil de apagar", conta Domingos Franco, de Gouveia. "A situação descontrolou-se quando os bombeiros iniciaram um contra-fogo e o vento mudou subitamente de direcção", explica. "É a maior vergonha que já vi até hoje, não houve organização nenhuma", queixa-se o morador, que decidiu tirar o dia para assistir aos acontecimentos. "Sabe qual é o mal disto? Todos querem mandar", diz. A indignação era quase geral. "Começou por uma porcaria de nada... É a maior vergonha", barafustava um militar da GNR que controlava o trânsito.

"O grande objectivo é impedir que o fogo chegue à serra", explicava Seara depois das 15.00. A essa hora, o maior inimigo dos bombeiros foi o vento, que ainda soprava a 30 quilómetros por hora, com rajadas que chegavam aos 50. Os efeitos da ventania não demoraram a notar-se. O incêndio dirige-se agora com toda a força para Nafarros. "Se passa Nafarros, chega à serra."

O combate aos vários focos não era fácil para os cerca de 300 bombeiros. A prioridade foram as pessoas e os bens. "Há uma série de casas dispersas que complicam a nossa acção", lamenta Elísio Oliveira, comandante distrital dos Bombeiros e Protecção Civil. Aos 90 veículos e cinco meios aéreos juntam-se reforços, mais de 30 bombeiros. Minutos depois, o fogo ultrapassa o posto de comando pela esquerda e ganha nova frente em direcção ao Carrascal.

"Peço a Deus que o fogo seja controlado até ao pôr do Sol", diz Seara. Os bombeiros ainda evitaram que a central eléctrica da EDP ardesse, mas as chamas ameaçaram duas casas e um terreno cheio de plásticos e outros resíduos. "Deixem o ferro-velho, está a arder-me o barracão", grita uma moradora em pânico.

Apesar das constantes descargas dos Canadair e dos Beriev, as chamas avançaram até perto da aldeia do Carrascal, enquanto se davam reacendimentos em Gouveia e Casal Redondo (perto de Janas). Mas os bombeiros fizeram um "trabalho cirúrgico" e "só ardeu um anexo em Nafarros", garantiu o autarca. Contudo, Sintra perdeu ontem "perto de 200 hectares", lamentou.

Às 18.00, Mafalda Marques, do Carrascal, não voltara a casa. "O meu marido está lá e diz que foi um inferno, mas a casa salvou-se. A sorte foi ter-se molhado o mato à tarde", diz.

As últimas descargas dos meios aéreos terminaram às 19.00, mas o rescaldo iria prolongar-se até de manhã. "Iremos ter todo o cuidado durante a noite", salientou Fernando Seara.|

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