"Sinto-me impotente com tantos funerais"
Como é que o concelho perdeu três quartos da população?
Sofreu um processo acelerado de desertificação, transversal ao interior. Sinto-me impotente perante a quantidade de funerais. Há um grande envelhecimento da população, faltam jovens. Faz-nos pensar e dar gritos de alerta, também de revolta porque não vimos medidas robustas para inverter a situação.
E o investimento local?
Temos equipamentos desportivos e sociais, uma rede viária espetacular, apoios aos alunos, aos jovens, aos idosos e, mesmo assim, as pessoas vão saindo - também porque não têm emprego -, mas estamos a 30 minutos de Vila Real, o litoral. O IC27 é uma obra fantástica e o caricato é que acaba por ser um vazadouro. Em vez de as pessoas viverem em Alcoutim e trabalharem no Algarve, saem, mas a verdade é que o mercado de habitação não está dimensionado para muitos mais habitantes. Um investimento em habitação para jovens marcaria a diferença.
E o turismo que atraem?
Vão e vêm, comem, passeiam, mas depois regressam. Também estamos limitados pelo alojamento. A autarquia está a tentar abrir uma estalagem que fechou há três anos e em 2013 fecharam dois hotéis. Mas a solução passa por aí, até porque temos o turismo cinegético [caça], de natureza [caminhadas]. E há um trabalho de parceria a fazer com Espanha. Temos aqui ao lado uma região, Andaluzia, com oito milhões de pessoas, e os espanhóis têm uma capacidade financeira superior à nossa e vêm muito a Alcoutim, gostam muito da nossa comida.
No ano passado nasceram 13 bebés quando em 2014 foram quatro. Este sucesso deve-se ao incentivo à natalidade?
Vejo esse apoio como uma medida integrada e que robustece os benefícios existentes. Acredito que foi o clique que faltava para a tomada de uma decisão, que é uma decisão responsável. Esgotámos as vagas no infantário pela primeira vez.