Sinfónica Juvenil dá 'Hymnen' de Stockhausen em estreia nacional

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A Orquestra Sinfónica Juvenil (OSJ) vai hoje ser protagonista de um acontecimento de grande significado a estreia portuguesa de Hymnen mit Orchester (de 1966-67), de Karlheinz Stockhausen (n. 1928), obra emblemática da música de vanguarda da década de 60.

A direcção cabe a Pedro Amaral, com assistência na projecção sonora de Bryan Wolf.

Hymnen mit Orchester é uma das obras mais famosas de Stock-hausen. Na época em que foi escrita, Stockhausen gozava de uma grande popularidade, inclusivé junto do mundo da música pop. Isso devia-se, em grande parte, aos seus trabalhos como sons electrónicos, cujos resultados "passavam" rapidamente para a esfera da pop. Tanto assim era que os Beatles incluiram, em sinal de reconhecimento da influência da sua obra, a fotografia de Stockhausen na capa do histórico álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, editado no mesmo ano (1967) de Hymnen.

A composição de Hymnen ocorre imediatamente após uma visita do compositor ao Japão, onde se deixa impregnar pela cultura e filosofia orientais (algo, de resto, muito sixties...) e sucede imediatamente a uma outra - Telemusik - onde Stockhausen usa, num processo algo semelhante, músicas tradicionais de várias partes do mundo, sobretudo do Oriente e de África. Hymnen foi uma encomenda da Filarmónica de Nova Iorque, mas a estreia ocorreu em Colónia, a 30 de Novembro de 1967, sob a direcção do compositor. Deve o nome (Hinos) ao facto de utilizar como matéria-prima os hinos nacionais de cerca de 40 países, mas também A Internacional, o hino nazi Horst Wessel-Lied e um hino imaginário ("hino do reino utópico de Hymunion").

À vontade de integração, fusão e transmutação de músicas de culturas diversas já patente em Telemusik, juntou-se aqui a associação do melting pot americano (que se realiza supremamente em Nova Iorque) e ao facto de ser essa a cidade onde têm sede as Nações Unidas.

Simultaneamente, Hymnen insere-se numa corrente de pesquisa - de que é, aliás, um dos corolários - que o compositor efectuava na época, buscando a integração numa mesma obra dos sons tradicionais (acústicos), da sua transformação em tempo real (à escala da altura) e da utilização de sons electrónicos em fita magnética, eles próprios integrando matéria puramente electrónica e matéria "pré- -existente" - em suma, concreta.

Referência especial merecem, finalmente, o maestro e o assistente musical do concerto de hoje, respectivamente, Pedro Amaral e Bryan Wolf. O primeiro é, aos 33 anos, um compositor de projecção internacional e um maestro em afirmação (estudou com Pomàrico e Eötvös). Além disso, é um profundo conhecedor da vasta obra de Stockhausen. Quanto a Brian Wolf (EUA, 1960), compositor e engenheiro de som, é desde 1989 um parceiro habitual de Stockhausen nas apresentações das suas obras (e "assistente pessoal de direcção sonora" desde 1998).

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