Sindicato da construção quer salários 50% mais altos

Albano Ribeiro, presidente do sindicato, exige aproximação de salários à Europa e quer que os operários qualificados ganhem, no mínimo, 900 euros por mês. Hoje ganham 606 euros.
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O Sindicato da Construção quer negociar um novo contrato coletivo de trabalho para o setor que assegure a aproximação dos salários dos operários portugueses aos europeus. Para Albano Ribeiro, "é uma vergonha" que um operário qualificado ganhe 606 euros por mês em Portugal quando em França aufere 2500 euros ou 3500 na Alemanha. Exige, por isso, que o vencimento de tabela de um operário qualificado passe a ser, no mínimo, de 900 euros. E espera contar com o apoio dos eurodeputados portugueses nesta luta.

"Porque é que os eurodeputados portugueses ganham o mesmo que os seus colegas de outros países e os trabalhadores da construção ganham três vezes menos do que os alemães? Onde está a moralidade disto?", questiona. Albano Ribeiro considera que só com melhores salários será possível evitar a sangria de operários para o estrangeiro. E, por isso mesmo, pretende também envolver o ministro das Infraestruturas e da Habitação na discussão desta temática, já que "em causa podem estar grandes obras públicas importantes para o país", dos hospitais à ferrovia, por falta de mão-de-obra disponível. "Todos os dias o setor está mais despovoado. E, se queremos que os operários regressem a Portugal, temos de lhes pagar condignamente."

Albano Ribeiro reconhece que as construtoras portuguesas não terão capacidade para pagar o mesmo que pagam as suas congéneres alemãs ou francesas - um engenheiro civil em Portugal ganha 950 euros, em França quatro mil e na Alemanha cinco mil. Pede apenas que a diferença não seja tão grande. "No mínimo, um trabalhador qualificado tem de ganhar 900 euros, até porque já há empresas em Portugal que o pagam." O sindicalista espera contar com o apoio dos dirigentes patronais a esta proposta, ou promete concentrar os trabalhadores à porta da AICCOPN em sinal de protesto. "900 euros é um valor perfeitamente defensável, não podem dizer que não, já há associados a pagá-los." Pior, "há empresas a pagar 606 euros em Portugal, mas que, depois, pegam nesse trabalhador e levam-no para a Bélgica e já lhe pagam 1800 euros".

E a argumentação da associação patronal de que a solução da falta de mão-de-obra especializada está na crescente aposta na formação profissional não colhe. "Portugal é o país da UE que tem mais trabalhadores qualificados por metro quadrado", garante Albano Ribeiro. "A construção está sempre na linha da frente do desenvolvimento de um país e, dada a sua importância para a economia, os seus trabalhadores não deveriam ser tratados desta forma."

Portugal tinha, no final do primeiro trimestre de 2019, quase 309 mil trabalhadores no setor da construção, número que, apesar de estar a crescer nos últimos trimestres, representa ainda uma quebra de quase 24% face a igual período de 2011, de acordo com os números do Instituto Nacional de Estatística (INE).

O DN/Dinheiro Vivo tentou, sem sucesso, obter um comentário da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN).

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