Sinais vermelhos: economia mundial cresce ao pior ritmo desde a crise
Os alarmes estão a soar por todo o lado e são poucas as economias que escapam a previsões mais pessimistas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE). À exceção do Canadá, do Japão e da Turquia, todas as restantes economias avaliadas estão numa trajetória de menor crescimento e a zona euro será uma das mais castigadas, com a Alemanha à cabeça.
Nas previsões intercalares divulgadas hoje para 2019 e 2020, a OCDE fez revisões em baixa face a maio. O produto interno bruto mundial (PIB) deve crescer este ano 2,9% (menos três décimas do que em maio) e no próximo ano o ritmo de crescimento não deve ir além dos 3% (menos 0,4 pontos percentuais do que em maio).
E quase ninguém escapa. Para a zona euro a previsão para o crescimento real do PIB é de 1,1% (menos 0,1 do que em maio), mas a maior revisão em baixa é para 2020, com um corte de 0,4 pontos, para 1%. E a maior queda verifica-se na Alemanha que tem as projeções suprimidas em duas décimas este ano e seis décimas em 2020, face a maio. De resto, é no próximo ano que tudo se complica. O mercado germânico é o terceiro maior cliente das exportações portuguesas.
"O panorama global tornou-se cada vez mais frágil e incerto. O crescimento do PIB é moderado e o comércio global está a contrair", indica a OCDE, acrescentando que "as tensões contínuas e aprofundadas nas políticas comerciais estão a afetar cada vez mais a confiança e os investimentos."
A organização que junta 36 países lembra que "o crescimento global abrandou a um ritmo anual de 3% na primeira metade de 2019." E apesar dos resultados positivos nos Estados Unidos - suportados pelo consumo e por uma política orçamental expansionista - a organização sublinha o desempenho mais fraco do que o antecipado, especialmente na Europa.
Se o abrandamento económico mundial já se fazia antecipar, a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China veio agravar o cenário. De acordo com as previsões da organização sediada em Paris, "as medidas tarifárias dos EUA e da China podem reduzir o crescimento do PIB global entre 0,3 e 0,4 pontos percetuais em 2020 e 0,2-0,3 p.p. em 2021."
As duas potências seriam as mais afetadas, mas os restantes países não sairiam ilesos. Os efeitos colaterais acabarão por afetar todos e a zona euro seria o terceiro bloco económico a sentir as maiores ondas de choque, sobretudo no investimento.
"As medidas tarifárias bilaterais introduzidas pelos Estados Unidos e pela China desde o início de 2018 continuarão a exercer um impacto significativo sobre a atividade e o comércio globais nos próximos dois anos, principalmente devido à incerteza adicional criada", indica o relatório divulgado esta quinta-feira.
"A China e os Estados Unidos seriam os mais afetados devido a esses choques, mas todas as economias são afetadas negativamente pelo aumento da incerteza, com impacto severo no investimento das empresas nas principais economias avançadas."
Mas ainda há uma esperança. "Caso as tensões diminuam, o crescimento global poderá ser mais forte do que o projetado, embora a incerteza ainda possa permanecer elevada, dada a maior imprevisibilidade das políticas", conclui a OCDE.