"Sinais graves de degradação" já afetam "mortalidade materna"
Luís Montenegro, o líder eleito do PSD, fala em "sinais graves de degradação" no SNS que "geram desconfiança nos cidadãos" e responsabiliza os governos socialistas por "anos de cativações e birras ideológicas". O que está a acontecer é a "demonstração objetiva do empobrecimento que os governos socialistas trazem a Portugal".
O grupo parlamentar do Chega já pediu ao presidente da Assembleia da República a marcação de um debate de urgência por causa do "caos instalado" em "inúmeros casos de hospitais, um pouco por todo o país".
Marcelo Rebelo de Sousa considera "objeto de preocupação" estes encerramentos, mas desdramatizou, alegando ser "uma situação crítica neste fim de semana longo em alguns serviços de obstetrícia". Este "ponto crítico específico", diz, tem "a ver com outro que é o dos cuidados primários" e, por isso, deve ser analisado "o sistema como um todo e ir introduzindo as mudanças necessárias para o adaptar à realidade".
Depois de, na sexta-feira, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) ter avisado para constrangimentos no funcionamento dos serviços de obstetrícia e ginecologia até segunda-feira em vários hospitais na região de Lisboa, ficou a saber-se que, para além do São Francisco Xavier, Beatriz Ângelo (Loures), Garcia de Orta (Almada) e Hospital de Setúbal - e, nalguns, "os constrangimentos" já vinham desde quarta-feira -, também o Hospital de Braga vai fechar hoje, e durante 24 horas, a urgência de obstetrícia "pela impossibilidade de completar escalas".
A resposta aos utentes, no caso de Lisboa e Vale do Tejo "será garantida pela rede do SNS da região, com desvios na resposta ao serviço de urgência externa", assegura a ARSLVT.
Diogo Ayres Campos, presidente da Associação Europeia de Medicina Perinatal, diz que se está perante "uma situação muito preocupante" até "porque já se sabia há uns tempos que havia este problema nas equipas médicas das urgências de obstetrícia, sobretudo na região de Lisboa e Vale do Tejo, mas também noutras noutros locais".
O médico e professor universitário alerta para o facto de haver hospitais, sem problemas de constrangimentos, que "não têm locais onde sequer deitar as grávidas em trabalho de parto quando não estão dimensionados para dar apoio à população de outros hospitais".
"Por exemplo, o Hospital Santa Maria, na sexta-feira, onde estou de serviço, estava completamente cheio. Não havia uma única vaga na sala de partos", disse o também diretor do Serviço de Obstetrícia do Centro hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN).
Outro problema, alerta a Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e no Parto é o que a falta de médicos e enfermeiros nos serviços de obstetrícia e ginecologia está a causar na mortalidade materna.
Sara Vale, a presidente da associação, garante que "a taxa de mortalidade materna tem vindo a ter uma curva ascendente nos últimos dez anos".
"A associação até já tinha alertado para isso há dois anos" e é "triste que se tenha tido que chegar a este ponto [o caso da grávida que perdeu o bebé alegadamente por falta de obstetras no hospital das Caldas da Rainha] para se olhar de frente para um problema urgente".
O Ministério da Saúde afirma que, "tendo em vista o apuramento de toda e qualquer responsabilidade, foi já instaurado um inquérito aos factos pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS)" e conclui que, "na pendência do inquérito, cujos resultados serão tornados públicos, não é possível estabelecer qualquer relação entre os dois factos".
Que dois factos? Os "constrangimentos na escala de ginecologia e obstetrícia, impossíveis de suprir" e a morte do bebé.