Sinais de vida
Marcelo Rebelo de Sousa foi ao Coliseu obrigar Passos Coelho a rasurar as passagens da sua moção, que colocavam o comentador fora da corrida das presidenciais. Com a eficácia habitual, Marcelo produziu um discurso, em que se combinaram registos de jantar de antigos combatentes, com rasgos de um reality show de perdão e reconciliação. No final, toda a gente ficou a saber que o candidato presidencial do PSD foi obtido pelo método singular de autodesignação. Contudo, o melhor discurso do Congresso pertenceu a Santana Lopes. O antigo primeiro-ministro deu voz às vítimas dos golpes dolorosos de uma crise que os dirigentes do seu partido se ufanam, prematuramente, de estar a vencer. O desemprego sem esperança dos mais velhos. As expectativas frustradas dos reformados. A dificuldade em rasgar um futuro para os mais novos. A angústia daqueles que são atingidos pela doença, num país onde a saúde se encontra cada vez mais inacessível. Santana Lopes foi também o único a dizer coisas politicamente sensatas em matéria europeia. Combateu o mito da autoflagelação que é a doutrina oficial, quando afirmou que a nossa dívida, mais do que causa endógena, foi também consequência, de uma união monetária mediocremente desenhada e que nem sequer aplicou as suas regras (recordou as violações do PEC pela Alemanha e pela França). Apontou a necessidade de ter uma política europeia, de espinha direita, e não de cócoras como até aqui (as imagens são minhas). Notável também foi a punição dada pelos militantes à escandalosa indicação de Miguel Relvas (um nome que em si próprio já transporta uma constelação de adjetivos pouco recomendáveis) para chefiar a lista do Conselho Nacional. Num Congresso cinzento, são sinais de vida de um partido que não caiu tão fundo quanto a sua atual direção.