Silicose é a principal doença em trabalhadores do distrito do Porto

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A silicose é a doença que mais afecta os trabalhadores do distrito do Porto. Um estudo desenvolvido pelo Centro Regional de Saúde Pública do Norte, com base nas notificações confirmadas pelo Centro Nacional de Protecção Contra os Riscos Profissionais, revela que, entre 1998 e meados de 2004, foram detectados 2003 casos de doenças ocupacionais. Destas, 491 casos eram doentes com silicose, uma doença pulmonar que pode levar à morte, representando 85 por cento das doenças respiratórias apuradas.

Em termos de distribuição geográfica, Vila Nova de Gaia é o concelho do distrito do Porto onde se regista o maior número de doenças ocupacionais. Algo que, segundo Rocha Nogueira, responsável pela investigação, é explicado pelo elevado número de empresas ali sedeadas. Logo a seguir posicionam--se Porto, Maia e Matosinhos. Penafiel também ocupa um lugar de destaque no ranking das doenças profissionais, ainda que a alguma distância das anteriores. O número de pedreiras localizadas nesse concelho explica a posição. Logo a seguir ficam Marco de Canaveses e Felgueiras.

A maior prevalência de doenças profissionais foi encontrada em indivíduos com actividade nas indústrias extractivas, nomeadamente pedreiras, construção civil e metalomecânica. É precisamente nestes dois primeiros sectores económicos que os trabalhadores ficam mais expostos a poeiras e, por isso, mais vulneráveis a contrair silicose, uma doença respiratória, que pode levar duas décadas a manifestar-se e ter como consequência a morte.

Na indústria extractiva, o tecido do distrito é constituído por pequenas empresas, quase familiares, onde os trabalhadores usam poucos mecanismos de protecção, nomeadamente máscaras. O elevado número de casos de silicose - 491 casos num total de 2003 - pode também ficar a dever-se à existência de minas de carvão em S. Pedro da Cova, Gondomar e também no Pejão, em Castelo de Paiva.

morbilidade. Do total de casos notificados, cerca de 63 por cento foram provocados por agentes físicos como barulho e vibrações. Daí a surdez afectar uma grande fatia das pessoas que trabalham no distrito do Porto, seguindo uma tendência que se verifica a nível nacional. Aliás, esta patologia e as doenças osteo-musculares, onde se incluem as tendinites, representam dois terços do total de patologias referenciadas pelo Centro Nacional de Protecção Contra os Riscos Profissionais.

Neste contexto de doença provocada pela actividade laboral, os homens são os mais afectados. Do total de casos notificados, cerca de dois terços reportam-se ao sexo masculino, no grupo etário compreendido entre os 45 e os 54 anos.

Também as patologias do foro dermatológico apresentam uma incidência com significado no distrito. A construção civil é, de novo, o sector mais afectado. Manuseamento de cimentos e colas provoca muitas vezes dermatoses graves e incapacitantes.

Um dado curioso da investigação é o número de cancros relacionados com a actividade profissional. Apenas três. Rocha Nogueira classifica o número como «ridículo», atendendendo «às condições em que os nossos trabalhadores trabalham». No período em análise, foram notificados dois cancros da bexiga e um da glândula salivar. Os dois primeiros foram diagnosticados em indivíduos que trabalhavam directamente com pigmentos de tinturarias. O último, bastante raro, foi contraído por um trabalhador da indústria da borracha.

Outro resultado do trabalho que causa estranheza ao especialista do Centro Regional de Saúde Pública é o valor, inferior a um por cento, de doenças provocadas por factores biológicos. Apenas 11 casos de tuberculose, brucelose e outras doenças infecto-contagiosas foram notificados no rol de doenças profissionais. Metade diz respeito a tuberculose. Rocha Nogueira estranha que no sector agrícola não haja mais casos, bem como na área da saúde não exista pessoal médico e de enfermagem a contrair doenças infecto-contagiosas.

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