Sigam as luzes azuis para caçar os tesouros do Lumina

Os coelhos gigantes são protagonistas de centenas de <em>selfies</em>, na Cidadela as imagens engolem os visitantes e o Parque Marechal Carmona é estar num livro de fantasias, graças às 22 instalações artísticas que o Festival Lumina, que se pode ver em Cascais até domingo. Basta seguir os candeeiros
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O truque é simples: combinar no Largo da Estação, espreitar a projeção de OCUBO a partir dos azulejos criados com Playmobil de Heberth Sobral e começar a descer para Rua Direita, seguindos candeeiros azuis. São eles que nos dizem: Lumina, por aqui (também há cartazes com o número de cada obra, mapas distribuídos por voluntários e uma aplicação para smartphones).

Os irmãos Pereira - Cláudio, Lara e Inês - gostaram da segunda, a mandala gigante dos neozelandeses Storybox, projetada na fachada da Igreja da Misericórdia. Era já, às 20.30, um dos locais concorridos do Lumina, na quinta-feira, dia de arranque do festival organizado por OCUBO tendo como principal financiador a câmara municipal de Cascais. "Tinha graça podermos escolher o que queríamos", explica Cláudio Pereira, 19 anos. Entity 255, nome da peça, é uma instalação interativa que convida os visitantes a fazer a sua escolha.

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E chegamos à Baía de Cascais, onde cinco coelhos gigantes eram alvo da fúria dos smartphones. Sarina, iraniana de 9 anos acompanhada pelo pai, tentava a custo captar uma imagem de um coelho, sem gente à frente.

"Acompanhámos as montagens, queríamos ver o resultado", conta Sónia Sousa ao DN, ao lado das amigas, todas funcionárias do bairro dos museus. Pela sua dimensão, cinco coelhos gigantes, a chegar aos sete metros de altura, Intrude, nome de batismo desta obra da australiana Amanda Parer, tinha chamado a atenção muito antes das luzes se terem acendido.

O grupo pretendia fazer o percurso inteiro, e até tinha torpedeado o percurso recomendado pela organização do Lumina. Sónia e as amigas começaram nos portuguesíssimos arcos de iluminação Teixeira do Couto. Sem dramas. O passeio é livre e o verdadeiramente aconselhado é ter tempo para desfrutar das obras, sapatos confortáveis e um casaco (prevê -se um ligeira descida das temperaturas).
Depois de admirar o coelho deitado na areia da praia, hora de subir o Passeio de D. Luís até à Cidadela, fazendo slalom entre as famílias e os carrinhos de bebé. A estátua de D. Carlos está escondida por uma pequena multidão. Começam a ver-se abatjours. são os portugueses Radar 360º, que trouxeram a Cascais uma interpretação luminosa do Baile dos Candeeiros, uma tradição da Foz do Douro. A plateia ri-se. Um dos três atores em cena acende e a apaga a sua luz, iluminando ou obscurecendo um operador de câmara ocupado com outro "candeeiro" que se aproximou dos irmãos Pereira, sentados no murete com vista para a marina. "Pareceu-me que tinha um interruptor na mão", revela o portuense Cláudio, de férias em Cascais com a família.

O percurso continua e vai dar à Cidadela. A música de circo vitoriano e a respetiva animação, carregados de nostalgia, são obra de Yossi Jimmy e Elian Kaczka (a quem todos chamam Lula), que estão ali mesmo a ultimar detalhes.

Vieram de Israel e foi num festival em Jerusalém que Cirque de Carton, a sua peça, se apresentou pela primeira vez. Foi também a primeira vez que trabalharam juntos. "Apaixonei-me pelo trabalho dela", diz Jimmy. Lula faz esculturas em cartão e concebeu as formas do circo, que ele animou. "Eu trabalhei no meu estúdio, ele em casa, só nos encontrámos um dia antes", revela ela. A conversa é interrompida para mostrar uma imagem que não devia. "Ah...", solta, frustrado, Jimmy. "Amanhã vamos arranjar, hoje já não conseguimos", diz Lula.

O percurso leva-nos até ao interior da Cidadela de Cascais, onde está montada uma das obras de OCUBO, em parceria com os artistas aborígenes australianos Pitcha Makin Fellows. Nuno Maya chama-lhe uma experiência "imersiva" e, uma vez lá, percebe-se. A instalação de video mapping está em todas as paredes até o espectador se sentir parte da experiência.

O outro ponto alto de concentração dos visitantes é o Parque Marechal Carmona. Os Jardins Mágicos do finlandês Kari Kola impõem-se, acompanhados de sons que levam até florestas imaginárias, animais domésticos e selvagens (de Katja Paternoster) e os vestidos fantasmagóricos de Tae Gon Kim, tecidos com milhares de fios de fibra ótica e suspensos na negritude e Photosensitive (Katarzyna Skobata e Piotr Florianowicz), uma parede feita de milhares de linhas fosforescentes os visitantes hesitam e desejam transpor.

À escuridão do parque segue-se uma explosão eletrónica plasmada nas fachadas da Casa das Histórias, com Pattern 2.0, de Milosh Luczinski. Os candeeiros azuis encaminham para o Museu do Mar, depois para o Largo do Prior, com passagem pela policiada casa de Marcelo Rebelo de Sousa. É aqui que o britânico Paul Friedlander e o músico Zoot Lynam mostram a escultura Running in Circles.

Estamos no coração de Cascais e faz parte do percurso uma paragem na Igreja dos Navegantes, para ver as nuvens de Christophe Piallat. Adornam os altares e são ponto de descanso para muitos que as contemplam sentados nos bancos da igreja. Antecipam a chegada ao posto de turismo e aos psicadélicos Ring Ging Bling , que brincam com as cores primárias e não são recomendados a que sofre de epilepsia. Penúltima paragem antes de voltar à realidade e à mais tradicional das instalações luminosas, os arcos de festa.

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