Shaquille O'Neal: a 'lata de pepsi' ainda tem gás
Confesso, quando Shaquille O'Neal entrou na NBA - já lá vão 17 anos - literalmente de rompante, a arrasar tudo e todos, desde tabelas aos adversários, eu não parava de pensar: "Isto é concorrência desleal." Convenhamos, mesmo num mundo de grandes dimensões, geralmente jogado acima dos dois metros de altura, O'Neal, com o seu corpo combinado de 2,16 metros e 150 quilos, fazia todos em volta parecerem uns meninos do colégio infantil.
Charles Barkley, antes de Shaquille o gordo mais famoso da NBA, chamava-lhe "lata de pepsi com pernas" para depreciar o seu basquetebol "físico". Grande, gordo, forte e com um prazer quase sádico em humilhar os adversários, cada "Shaq attack" (como foram baptizados os tremendos afundanços de O'Neal) causava-me a mesma repugnância que um qualquer ataque com armas de destruição maciça. Por isso, desfrutei quando O'Neal foi "varrido" na sua primeira final, em 1995, pelos Houston Rockets de Hakeem Olajuwon, um poste nos antípodas de Shaquille, de técnica refinada e movimentos graciosos.
Agora, 16 épocas depois da entrada na liga, Shaquille O'Neal acaba de ser eleito para o seu 15.º Jogo All Star, depois de o ter falhado pela primeira vez na época passada. E eu curvo-me respeitosamente. Mais até do que quando ganhou os seus quatro anéis de campeão (três com os Lakers e um em Miami) ou o título de MVP (jogador mais valioso) da liga. Agora, aos 36 anos, depois de sucessivas épocas em que o seu grande corpo resolveu cobrar com juros os serviços prestados (sucessivas lesões nas costas), Shaquille volta a elevar o seu nome entre os melhores da liga.
Trocado pelos Miami Heat, já descrentes da sua utilidade, para os Phoenix Suns a meio da época passada, O'Neal parecia um peso morto no jogo frenético dos Suns então treinados por Mike D'Antoni. E o seu epitáfio na liga foi escrito um pouco por toda a gente. Contudo, este ano, com Terry Porter no banco a desacelerar o jogo da equipa de Phoenix, "Shaq" reencontrou o papel a que estava habituado. Em Dezembro, dava um grito de revolta: "Não posso ser o 'Shaq' a lançar só quatro vezes por jogo. Preciso da bola." Porter deu-lha e Shaquille voltou aos números dos seus anos dourados, com médias superiores a 20 pontos e 10 ressaltos por jogo nos últimos tempos. E é isso que me entusiasma. Agora, aos 36 anos, com o corpo fustigado, Shaquille O'Neal não é mais um caso de concorrência desleal. É uma lenda viva, com lugar merecido entre os melhores de sempre da NBA. |