Setúbal revive histórica discoteca Seagull em Tróia
Vai ser uma espécie de regresso ao passado em forma de sons, imagens e muitas recordações. É apenas por uma noite, mas o projecto está a conseguir mobilizar toda uma geração em Setúbal em redor da imensa nostalgia da "discoteca dos sonhos", que um dia foi engolida pelas chamas.
Dia 15 deste mês - 4205 dias depois - o velho Seagull está de vol- ta, abrindo portas para uma viagem no tempo. A festa, que também vai dar as boas-vindas ao Verão, cruza o Sado e mergulha pela noite dentro por terras de Tróia, sendo esperadas mais de 2500 pessoas.
Percebe-se o entusiasmo de Alfredo Martins, o dono da "disco" onde nunca se sabia quem se iria encontrar, com o projecto lançado pela Portugal Dream Coast, uma empresa promotora de eventos radicada em Setúbal, em parceria com a Amorim Turismo.
Ainda hoje respira fundo quando se aproxima da escadaria que conduz ao que resta da célebre discoteca, erguida no coração da Arrábida, paredes-meias com a praia de Galapos.
Alfredo estava longe de imaginar que o Seagull iria marcar uma geração entre os anos 80 e 90. "Ainda me dói a alma", refere à medida que desce pela encosta. "Depois de ter ardido estive seis anos sem cá vir. Tal era a tristeza", desabafa o empresário, que viu uma explosão de gás levar-lhe a "menina dos olhos" pelos ares no fatídico 19 de Novembro de 1998.
"Comecei com 67 metros quadrados na década de 80 e quando acabei eram 700. Estava tudo legal e ainda hoje não percebi porque é que não me deixaram reconstruir isto", lamenta, não poupando críticas ao Instituto de Conservação de Natureza e Biodiversidade.
"Não íamos estragar nada, só reerguer a discoteca, tal como a conheciam. Ela fazia parte deste património", refere, garantindo que se algum dia tiver autorização para voltar a deitar mãos à obra, não hesitará por um segundo. Aliás, até chegou a ter outros projectos no ramo, mas nenhum lhe "apagou" a fixação pelo "seu" Seagull, falando com saudades do mais comum dos clientes, às festas temáticas que juntavam ilustres figuras da política e do desporto nacional.
"O Jorge Coelho gostava muito disto. O Miguel Sousa Tavares também. O Chalana, o Carlos Manuel. Esse um dia até rasgou uma camisa e umas calças para poder entrar na festa do mínimo", recorda, sem esquecer a festa do cavalo, em quem só entravam clientes que se fizessem transportar de equino. "Chegámos a ter 87 cavalos na estrada, que foi mesmo fechada pela GNR."
Pois é este o espírito que João Cabral, o patrão da Portugal Dream Coast, quer transportar para a noite do dia 15, sendo que a corrida aos bilhetes já começou há vários dias.
"Vamos ter algumas curiosidades. Por exemplo, o staff será o do Seagull, com vários DJ, que vão passar apenas música daqueles anos. Será feita uma homenagem ao Zé Gato - falecido DJ - porque não temos memória curta e vamos passar muito vídeos que vão mostrar a natureza da nossa região. Porque o Seagull era natureza, estava lá dentro", afirma Alfredo Martins.