Setores aeronáutico, metalúrgico e metalomecânica com potencial para atrair investimento estrangeiro

Estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos identifica clusters e produtos portugueses atrativos para o capital externo
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Aeronáutica, metalurgia e metalomecânica são três clusters nacionais para onde o investimento externo pode ser canalizado com sucesso nos próximos anos.

Esta é a conclusão de um dos 11 estudos apresentados esta terça-feira pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), em Lisboa, e que a instituição vai publicar ao longo dos próximos três anos, da autoria de investigadores que dão garantia de apresentar "dados cientificamente rigorosos" sobre a sociedade portuguesa, afirmou o seu diretor de estudos, Gonçalo Saraiva Matias.

Diversificação da economia portuguesa e crescimento "é um estudo que olha para as oportunidades" e para "onde o investimento externo pode ser uma mais-valia", realçou Gonçalo Matias, adiantando que o documento analisa também "200 produtos em que Portugal é forte" e são um potencial chamariz para atrair capital externo nos próximos anos.

Que condições institucionais e produtivas são fundamentais para atrair investimento externo, saber se compensa centrá-lo em setores e produtos específicos e quais as regiões e produtos onde as empresas portuguesas devem apostar para serem internacionalmente competitivas são algumas das questões a que o estudo, coordenado pela professora Leonor Sopas, procura dar respostas.

Este estudo será apresentado em outubro no Porto e juntamente com outros dois trabalhos, um sobre empreendedorismo e desigualdade de rendimentos do trabalho e o segundo sobre "O que fica quando a multinacional sai?", segundo o calendário da FFMS, uma instituição fundada em 2009 por Alexandre Soares dos Santos com o objetivo de estudar e divulgar "os grandes problemas nacionais".

Igualdade de género ao longo da vida vai ser o primeiro estudo a ser publicado, já no próximo dia 28 deste mês, e apresenta "conclusões de algum modo inesperadas", referiu David Lopes. Segundo este membro da comissão executiva da FFMS, a investigação foca-se em três períodos de vida distintos: até aos 29 anos, dos 30 aos 49 anos e entre os 50 e os 65 anos. Uma das questões em análise consiste em perceber se a crise económica e financeira desta década "afetou diversamente homens e mulheres" em matéria de desemprego, salários e precariedade laboral.

Outro estudo relacionado com a crise dos últimos anos analisa o seu impacto nos acórdãos dos tribunais ao longo do país e não apenas ao nível, mais conhecido, do Tribunal Constitucional. Um dos elementos já identificados, segundo Gonçalo Saraiva Matias, é que essa crise económica "foi transversal às decisões de muitos" juízes, nomeadamente em "casos de natureza criminal" e envolvendo falências ou dívidas individuais.

A "Qualidade da governação local" é outro "estudo inédito" sobre o poder local e será tema de uma conferência agendada para novembro, tendo em pano de fundo estudos já publicados sobre a matéria. David Lopes, dizendo esperar que as conclusões "sejam um contributo" que os partidos considerem útil para o processo de descentralização que justificou o recente acordo entre Governo e PSD.

Note-se que esse acordo, assinado a 18 de abril, permitiu criar um grupo de trabalho para apresentar conclusões até ao final da legislatura, com propostas para uma reforma do Estado que corrija uma situação em que "Portugal é identificado como um dos países da UE com perfil mais centralizado e centralizador". Segundo o documento subscrito pelo chefe do Governo, António Costa, e o presidente do PSD, Rui Rio, essa realidade "compromete o processo de desenvolvimento e equilibrado dos vários territórios, cristaliza desigualdades, distancia-o dos mais progressivos e mais socialmente justos" Estados da União

Outro dos intervenientes na apresentação dos estudos da FFMS foi o politólogo Carlos Jalali, o qual sublinhou que 2018 é "um ano histórico" porque a Constituição de 1976 torna-se mais duradoura que a do Estado Novo, de 1933. A consequência, adiantou o académico, é que "já não podemos considerar a democracia como jovem" porque a alternativa seria qualificar a ditadura como tendo caído quando ainda era nova.

Outros dois estudos em preparação analisam a "Religião e espaço público" e a "Sustentabilidade financeira e social do sistema de pensões português". Este, também em formato digital, fará uma comparação com o modelo sueco e vai disponibilizar um simulador que "faz o teste ao sistema" nacional.

Essa ferramenta permitirá saber "como a nossa pensão se projetará no futuro" em função de diferentes variáveis e através daqueles dois modelos (em que no português se recebe uma percentagem do vencimento e no sueco o que se descontou).

Será possível "perceber se as pensões vão ser adequadas" para "viver ou sobreviver" quando chegar o momento de as receber, explicou David Lopes, informando ainda que a FFMS está a fazer "um levantamento de todos os sistemas de pensões existentes no mundo".

Gonçalo Matias observou ainda que esse estudo ajudará a "testar a sustentabilidade" do modelo português e quais as "reformas que podem ser introduzidas" para a garantir. "O estudo não vai ser alarmista, vai ser muito realista", desde logo porque os contribuintes poderão "perceber que há alternativas", frisou o diretor de estudos da FFMS.

David Lopes destacou ainda a importância que os temas das desigualdades, população e trabalho têm desde o início dos trabalhos da fundação, o últimos dos quais vai ser objeto de um estudo a apresentar no próximo dia 5 de junho sob o título "Trabalho dá que pensar".

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