Sessions cada vez mais entre a Rússia e a parede

Procurador-geral, ao contrário do que afirmou, terá falado com Moscovo durante a campanha eleitoral que levou à eleição de Trump
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Os últimos dias têm sido no mínimo turbulentos para o procurador-geral dos Estados Unidos. De acordo com informação publicada ontem no The Washington Post, Jeff Sessions está mais uma vez sob suspeita de ter mentido em relação aos contactos que teve com Moscovo durante a corrida presidencial que levou Donald Trump à Casa Branca.

O diário norte-americano revelou que Sessions, ao contrário do que este garantiu, terá mesmo discutido assuntos relacionados com a campanha - e com as posições de Trump em relação à Rússia - nos dois encontros que teve com o então embaixador russo em Washington. As fontes do The Washington Post são atuais e ex-funcionários dos serviços de inteligência norte-americanos e contam que as agências de espionagem dos EUA intercetaram as comunicações de Sergey Kislyak com Moscovo nas quais o embaixador forneceu o relato das conversas com Jeff Sessions.

Uma das pessoas ouvidas pelo jornal sublinha que o agora procurador-geral - à época conselheiro do candidato Donald Trump para a política externa - teve discussões "substantivas" com Kislyak sobre as posições do futuro presidente dos EUA em relação à Rússia, nomeadamente no que diz respeito aos conflitos na Síria e na Ucrânia. Trump reagiu ontem no Twitter atacando a publicação e insurgindo-se contra as fugas de informação, dizendo que elas têm que "acabar".

A notícia do The Washington Post surge dias depois de Donald Trump ter dito em entrevista ao The New York Times que estava arrependido de ter escolhido Sessions para o cargo de procurador-geral. O presidente justifica a desilusão porque Sessions pediu escusa de supervisionar as investigações do FBI sobre as alegadas ligações de Trump, seus assessores e colaboradores à Rússia. "Aceitou o cargo e a seguir pediu escusa. Se ia fazê-lo, deveria ter-me dito antes de aceitar e eu teria escolhido outra pessoa", afirmou o presidente na entrevista.

A notícia agora divulgada pelo The Washington Post reveste-se de um significado político ainda maior devido aos antecedentes. Em janeiro, durante as audições no Senado que antecederam a sua confirmação no posto de procurador-geral, Sessions afirmou que não tinha tido contactos com russos. Quando passaram a ser conhecidos os dois encontros com Kislyak - um abril e outro em junho de 2016 -, o procurador-geral explicou que não tinha percebido a totalidade do alcance da pergunta, explicando que as reuniões com o embaixador tinham sido na sua qualidade de senador e que não tinham sido discutidos assuntos relacionados com a campanha de Trump.

A confirmar-se a notícia do The Washington Post, Jeff Sessions volta a ser apanhado em falso na polémica que mais tem assombrado a administração de Donald Trump. As fontes que falaram com o diário norte-americano sublinham que não é impossível que Kislyak, no relatório que fez a Moscovo dos encontros com Sessions, tenha exagerado o teor das conversas. O The Washington Post explica que não seria a primeira vez que diplomatas russos passam informação ao Kremlin - ou para cair nas boas graças dos superiores, ou para iludir os serviços secretos dos EUA. Ainda assim, refere o jornal, Kislyak era conhecido por transmitir relatos fidedignos a Moscovo.

Foi também Jeff Sessions que recomendou a Donald Trump o despedimento de James Comey. Mais tarde, a 8 de junho, o já afastado diretor do FBI revelou que os serviços secretos norte-americanos estavam na posse de informação que poderia ser "problemática" para o procurador-geral caso este não tivesse pedido escusa das investigações relacionadas com a Rússia.

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