Sessions afasta-se da Rússia mas ela ainda paira sobre ele

Procurador-geral pressionado a demitir-se após alegada mentira no Senado sobre contacto com embaixador russo durante campanha
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"Não me encontrei com nenhum russo, em nenhum momento, para discutir qualquer campanha política", reafirmou Jeff Sessions, ontem na NBC News. Segundo o Washington Post, o procurador-geral de Donald Trump manteve dois encontros com Sergey Kislyak, o embaixador russo em Washington, durante a campanha presidencial. Contactos que Sessions negou no Senado durante as audiências que levaram à sua confirmação no cargo, mas que entretanto foram confirmados pelo Departamento de Justiça. Este desvalorizou a questão, garantindo que não teve nada de ilegal - no último exemplo de um membro da equipa Trump apanhado a mentir. Ontem ao final do dia, Sessions pediu escusa da investigação às alegadas interferências russas nas presidenciais de 8 de novembro.

Acusado pelos democratas de mentir sob juramento, o senador do Alabama considerou estas alegações "inacreditáveis e falsas". Para Chuck Schumer, o líder da minoria democrata no Senado, "o Departamento de Justiça devia estar acima de qualquer suspeita" e "Sessions devia demitir-se". E foram vários os responsáveis democratas, bem como alguns republicanos - entre os quais o líder da maioria na Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy - a exigir que Sessions se afastasse da investigação a eventuais interferências da Rússia na campanha. Como procurador-geral, é a ele que o FBI, responsável pelo inquérito, responde. "Acho que para uma investigação avançar, temos de garantir que é confiável", explicou McCarthy.

Para o Departamento de Justiça, não há qualquer dúvida de que Sessions disse a verdade no Senado. "Perguntaram-lhe sobre comunicações entre a Rússia e a campanha de Trump - não sobre encontros que ele tenha tido como senador e membro da Comissão das Forças Armadas do Senado", garantiu a porta-voz Sarah Isgur Flores. Segundo esta responsável, Sessions teve durante a campanha conversas com mais de 25 embaixadores estrangeiros na condição de senador.

A demissão de Flynn

Sessions não é o primeiro membro da administração Trump a ser pressionado a demitir-se devido às ligações à Rússia. O conselheiro para a Segurança Nacional Michael Flynn acabou por ser afastado do cargo depois de vir a público dizer que o tenente-general na reserva discutira com o embaixador russo Sergey Kislyak, durante a campanha presidencial, as sanções impostas à Rússia após a anexação da Crimeia em 2014. Mais do que os encontros, foi o facto de Flynn não os ter comunicado ao vice-presidente Mike Pence que acabou por lhe custar o lugar.

Desde que tomou posse, a 20 de janeiro, Trump e os colaboradores já habituaram o mundo à sua noção própria da verdade. Nada de espantar vindo do homem que quando na campanha era confrontado por Glenn Kessler, o responsável pelo fact-checking do Washington Post, com um erro factual nunca pedia desculpas ou recuava. O tamanho da multidão que assistiu à posse do novo presidente foi logo uma das primeiras afirmações da nova administração a ser contestada. Sean Spicer, o porta-voz da Casa Branca garantiu que Trump teve "a maior audiência" de qualquer posse. Mas basta olhar para as fotografias áreas do momento, comparadas com as da posse de Barack Obama em 2008 para ver que não é assim.

Mas há muitos mais exemplos. Seja quando Trump garantiu que durante o último discurso de Obama como presidente foram mortas duas pessoas em Chicago - o que não aconteceu -, quando a conselheira Kellyanne Conway deu o exemplo do massacre de Bowling Green para justificar o decreto que suspendia a entrada nos EUA de cidadãos de sete países de maioria muçulmana - nunca aconteceu -, quando o presidente garantiu que as drogas estão mais baratas do que uma barra de chocolate - nem por isso - ou quando o vice Mike Pence afirmou que Obama "matou empregos - criou 11,3 milhões de empregos em oito anos.

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