Sessão de abertura do Fantas supera expetativas
"É um risco apresentar um filme como o Red Shoes, de Michael Powell, mas trata-se de uma vitória. As salas estão praticamente lotadas", afirmou Mário Dorminsky aos jornalistas, ontem, na sessão oficial de abertura da 33ª edição do Fantasporto, no Teatro Rivoli. O diretor e fundador do festival portuense acrescenta que "as pessoas continuam a aderir, o que significa que acreditam na programação que é feita. É perfeitamente normal ver salas com filmes coreanos, tailandeses ou indonésios cheias, o que faz do Fantas um fenómeno a nível da divulgação do cinema em Portugal."
O discurso proferido pela diretora Beatriz Pacheco Pereira deixa um apelo: "também é preciso separar o trigo do joio na Cultura, dar às pessoas que efetivamente trabalham e bem, as oportunidades que merecem. (...) Chaga de desmazelo que faz com que as cidades percam salas de cinema sem apelo nem agravo, como se o cinema não fosse um veículo de educação e cultura. Chega do fecho das companhias de teatro que vão escasseando por todo o lado e muito particularmente no Porto."
A diretora do Fantasporto confirmou ao DN que foi difícil obter apoios e que financeiramente a altura não é melhor. Beatriz Pacheco Pereira não deixa de apontar o dedo à "inoperância das leis do mecenato que só favorecem o Estado, depois de inúmeros apelos à iniciativa privada que só gosta de apoiar eventos como festivais de rock e clubes de futebol." Enfatiza ainda: "se não fazemos mais como quereríamos é porque não nos deixam". Embora a altura não seja a melhor a nível financeiro Beatriz Pacheco Pereira confessa que "o Fantas atravessa uma das suas fases mais fáceis a nível de organização do seu programa."
Mama, de Andrès Muschietti, e Red Shoes, de Michael Powell, foram as obras cinematográficas que marcaram a noite. Beatriz Pacheco Pereira reitera também o sucesso da sessão de abertura, mas em conversa com o DN deu o mérito ao primeiro filme da noite, o Mama, que segundo a própria explica,"está muito bem feito e com uma atriz fabulosa, a Jessica Chaistain." Salienta ainda o facto de Andrès Muschietti ser já "da casa do fantasporto", e relembra que a estreia de Guilhermo Del Toro, o produtor do filme, "foi precisamente neste festival com o Cronos."
Sobre o clássico Red Shoes, na noite de ontem apresentado numa versão restaurada pelo British Film Institut (BFI) com as cores originais, acrescenta que "as retrospetivas são importantes porque há pessoas com 20 anos que nunca viram um filme clássico a não ser na televisão, portanto chegam aqui e vêm o filme tal qual foi criado."
A sessão de abertura contou ainda com a inauguração da exposição de fotografia "Les Stars du Cinéma Français", cedida pelo diretor do Museu do Cinema de Melgaço, Jean Loup Passek, em colaboração com Institut Français du Portugal. O escultor Paulo Neves marcou também presença para a apresentação da sua mostra de escultura no Teatro Rivoli. O escultor revelou estar "contente pela Beatriz e o Mário me convidarem para ser o artista plástico deste ano do fantas, portanto trouxe uma instalação com peças concebidas no ano passado, "As Santas." Tem a ver com o ambiente festival e o fantástico, por isso pensei, porque não as santas."
O Fantasporto vai atribuir ainda o Prémio Carreira ao realizador António Macedo, altura assinalada pela projeção dos filmes "Chá Forte com Limão", "O Princípio da Sabedoria", "Os Abismos da Meia-Noite" e "Os Emissários de Khalom". A 6 de março será feita uma homenagem a Manoel de Oliveira para assinalar os 70 anos de Aniki Bobó. Para esta homenagem espara-se a presença do cineasta e de alguns dos atores do filme. "Foi arriscado mas falámos com o realizador e ficou muito entusiasmado com a ideia", diz Beatriz.
Em competição na secção de Cinema Fantástico vão estar filmes como "Berberian Sound Studio", de Peter Strickland, que foi considerado um dos melhores filmes de 2012 para a revista Sight & Sound, lista que também incluía o português "Tabu", de Miguel Gomes.
Na Semana dos Realizadores vai estar o Leão de Ouro de 2012 no festival de Veneza, "Pietà", de Kim Ki-Duk, bem como o mais recente do britânico Terence Davies, "The Deep Blue Sea", com Rachel Weisz.