Serro Ventoso. A escola que quer cantar de galo no livro de recordes do Guinness
Uma escola do concelho de Porto de Mós está a tentar entrar no Guinness através de um painel gigante, usando o símbolo da aldeia de Serro Ventoso - o galo - feito em papel. A particularidade é que a maioria dos recortes foram feitos pelos alunos com necessidades educativas especiais.
A ideia partiu da professora Vânia Soares, que regressou ao agrupamento de escolas de Porto de Mós - onde já estivera em 2007, logo no início de carreira. Quando a educadora de infância e diretora-adjunta Olímpia Rosa entrou na sala uma manhã a pedir sugestões para a Semana da Educação - que iria realizar-se em Serro Ventoso (uma das freguesias do concelho de Porto de Mós), Vânia quis saber o que significava, afinal, a terra para as suas gentes.
O galo é um símbolo da localidade. "Atrás de mim tinha uma impressora com restos de papel. Olhei para aquilo e pensei que seria uma forma de reutilizar, maximizar o desperdício, os nossos recursos, promovendo a reciclagem. Atirei a ideia para o ar: porque não pegar no símbolo do galo e fazê-lo numa base, em cartão, com o rasgar, com o corte, envolvendo os miúdos?" As colegas olharam-na com alguma renitência. "Então faz um", desafiaram. E Vânia fez. O grupo percebeu que seria bom para as crianças, uma forma de darem asas à criatividade. "São meninos desde o pré-escolar até ao 6.º ano, por isso têm entre os três e os 12 anos de idade. Nem todos têm necessidades específicas", conta a professora, que de repente se viu envolta numa aventura que não imaginava, em que acabaram por participar todos os 1900 alunos do agrupamento, e todos os professores. Mas não só.
O projeto começou a evoluir. A construção desse painel gigante em suporte de cartão com papel reciclado foi um acontecimento na terra. "O presidente da junta disponibilizou logo uma carrinha para transportar os meninos e o que fosse preciso. E acabámos por integrar esta atividade nos dias 31 de maio, 1 e 2 de junho, aliando ainda o Dia Mundial da Criança", conta ao DN a professora Vânia Soares.
Para realizar a atividade, a escola envolveu toda a comunidade escolar: alunos, professores, assistentes operacionais, "sem esquecer os pais, que ofereceram cartão, papel, imenso material" para que fosse possível "concretizar o objetivo, cortando os galos uniformizados em A4", sublinha a docente.
Entretanto, feita a inscrição no Guinness - que até agora continua sem resposta - juntou-se também o Município de Porto de Mós, que acabou por oferecer umas t-shirts alusivas à efeméride. "Com poucos recursos financeiros provámos que é possível fazer uma atividade como esta. Usámos o que tínhamos, os restos de cartolinas, de papel, de jornais. E surgiram galos muito giros, mesmo que alguns pareçam unicórnios", brinca a professora, satisfeita com o resultado, no final do último dia.
No dia 2 de junho, reinava a satisfação entre toda a comunidade, já que a iniciativa acabou por mobilizar todos, "até grupos de idosos e de jovens adultos da CERCILEI". O painel, com mais de 50 metros quadrados, está agora exposto está agora exposto no clube desportivo de Serro Ventoso, para que toda a comunidade o possa apreciar.
Vânia Soares trabalha desde 2006. Atualmente está a frequentar o mestrado em Educação especial, a área em que mais gosta de trabalhar. Este foi um projeto que encarou como um desafio especial, porque é professora contratada. "E enquanto professores contratados ninguém conhece o nosso potencial", sublinha. De resto, considera que, de certa forma, também os professores de educação especial estão um pouco confinados ao universo "dos alunos, em pequenos grupos ou trabalho individualizado". "Este projeto conseguiu envolver-nos com toda a escola e toda a comunidade. Se vamos ou não entrar para o Guinness, é um pormenor. Além disso, da parte da direção houve muita confiança. E isso é muito bom para um professor contratado, porque é um professor que ninguém conhece", sublinha.
Desengane-se quem julga que há uma tradição secular associada ao galo de Serro Ventoso. Meia dúzia de anos chegam para a contar. Afinal, está associada ao "festival do galo", um evento gastronómico que tem vindo a conquistar adeptos naquela freguesia do concelho de Porto de Mós.
De acordo com a história contada pelo jornal O Portomosense, a lenda é tão simples quanto recente, explicada pelo próprio presidente da Junta, Carlos Cordeiro: "Lembrei-me que deveríamos fazer algo que identificasse a freguesia, algo genuíno, de cá. Pensámos em várias coisas mas acabámos por optar pelo galo, porque quase todas as pessoas têm três ou quatro galinhas e um galo. Era um meio de sobrevivência que as pessoas tinham e ainda têm."