Será Trump de novo o candidato republicano?

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O Partido Republicano selecionará o seu candidato para as eleições presidenciais de novembro de 2024 na sua Convenção Nacional em julho de 2024, depois de uma longa série de eleições primárias que têm início em janeiro. Em geral, sete meses antes da convenção, costuma haver uma incerteza considerável sobre quem poderá vir a ser o candidato, mas o ex-presidente Trump assumiu o controlo do Partido Republicano de tal forma e tem uma vantagem tão esmagadora sobre os seus rivais, que, embora saibamos que podem sempre acontecer percalços na política, é praticamente certo que Trump será o candidato republicano às eleições presidenciais de 2024. Nos últimos 50 anos, nenhum candidato que tivesse uma vantagem de 20 pontos nesta fase perdeu a nomeação do partido, e a vantagem de Trump sobre o seu rival mais próximo nas últimas sondagens nacionais é mais do dobro disso!

Embora seja provável que a Convenção Republicana não seja mais do que uma simples formalidade, trata-se no entanto de uma reunião de 2472 delegados selecionados através de eleições primárias individuais de 56 jurisdições: os 50 estados, Washington DC e 5 territórios dos EUA, cada um com o seu próprio conjunto de regras complicadas:

- A maioria dos delegados é eleita, mas alguns são nomeados diretamente por líderes nacionais ou estaduais do Partido Republicano;

- A maioria das jurisdições tem eleições primárias por voto secreto, mas algumas, incluindo a primeira do calendário em Iowa, têm Caucuses, onde os grupos de discussão identificam publicamente as suas preferências;

- Algumas eleições primárias são "fechadas", onde apenas os membros do Partido Republicano podem votar, algumas "abertas" onde qualquer pessoa pode votar e outras "semifechadas" com regras diferentes relativamente à elegibilidade para votar;

- A maioria das eleições primárias republicanas seguem a regra de "o vencedor leva tudo", onde o candidato líder obtém todos os delegados, mas nalguns estados aplica-se uma distribuição proporcional de delegados de acordo com o número de votos, e noutros há sistemas mistos.

A participação eleitoral nas primárias é muito menor do que nas eleições presidenciais: em 2016 e 2020, cerca de 25% dos eleitores elegíveis participaram nas primárias, em comparação com 66% nas eleições presidenciais de 2020. Os eleitores nas eleições primárias tendem a ser mais velhos, mais ricos, mais fortemente filiados e defendem posições mais radicais do que os eleitores das eleições gerais. No Partido Republicano, tendem a fazer parte da base de seguidores fiéis a Trump, representando cerca de 30% a 40% de todos os republicanos.

Os meios de comunicação social, o Partido Democrata e grande parte do mundo subestimaram consistentemente Donald Trump. Trata-se de um político excecionalmente talentoso, a figura dominante na política dos EUA na última década, com uma extraordinária capacidade de interagir com as pessoas. O seu eleitorado acredita que o ex-presidente "luta por pessoas como eu", está comprometido com cada um, pessoalmente. Quase todos os republicanos que ousaram opor-se a ele, perderam rapidamente a eleição seguinte.

Trump é barulhento, os americanos gostam de barulho; Trump é divertido, quem não gosta de ser entretido? E a linha entre entretenimento e crença torna-se ténue, particularmente com a ajuda da Fox News e de várias redes sociais, plataformas ideais para Trump proclamar inverdades nas quais as pessoas acabam por acreditar. Em sondagens recentes com eleitores Republicanos:

- 76% têm uma visão favorável de Trump,

- 71% dizem que Trump não cometeu nenhum crime grave, as acusações criminais contra ele são vistas como motivadas politicamente,

- Contra a total ausência de evidência de fraude eleitoral significativa, inacreditavelmente 62% ainda acreditam que Trump ganhou as eleições presidenciais de 2020;

- 58% dos republicanos acham que Trump deve ser o candidato republicano e uma grande maioria acha que ele vencerá Biden em novembro de 2024;

- Depois de cada uma das suas acusações criminais, Trump foi subindo nas sondagens gerais. Os republicanos uniram-se para o apoiar quando foi acusado de crimes.

A notável resiliência de Trump explica a razão pela qual apenas um candidato que concorre à nomeação republicana ousou atacá-lo (Chris Christie, que atraiu apenas 2% dos eleitores republicanos), os outros dificilmente criticam Trump, por medo de provocar a sua fiel base de eleitores, deixando-o livre para prosseguir a sua campanha, independentemente da disputa eleitoral, com nenhum dos seus adversários a conseguirem sequer chegar a 20% contra Trump.

Entretanto, avançam os múltiplos processos judiciais contra ele, alguns a nível federal, sujeitos a perdão presidencial, e outros a nível estadual. Nenhuma das acusações, e mesmo potenciais condenações, o desqualifica legalmente de concorrer e, se vencer as eleições em novembro de 2024, não o impedirão de exercer o cargo de Presidente. Em teoria, como Presidente poderia ilibar-se de quaisquer crimes federais e os casos estaduais seriam adiados para depois do seu mandato como Presidente.

Na verdade, concorrer à Presidência e vencer representa a melhor estratégia legal para minimizar o impacto dos múltiplos problemas legais de Trump. Os seus advogados também farão todo o possível para arrastar os processos legais e adiar as condenações finais para depois das eleições de novembro de 2024.

Salvo se tiver um grande problema de saúde que o impeça de concorrer, Donald Trump, de 77 anos será o candidato republicano às eleições presidenciais de 2024.

Autor de Rendez-Vous with America, an Explanation of the US Election System.
Presidente do American Club of Lisbon.

As opiniões aqui expressas são pessoais e não são as do American Club of Lisbon.
Este artigo e outros estão disponíveis em inglês em RendezVouswithAmerica.com.
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