Será que o óleo de coco é "puro veneno"? Não, mas o azeite é melhor
É usado para confecionar pratos no forno, na frigideira e como ingrediente de sobremesas. Há quem até o adicione ao café. Nos últimos anos, o óleo de coco passou a ser visto como uma escolha saudável, e houve mesmo quem o considerasse um superalimento. Mas será que é mesmo assim? Karin Michels, professora da Universidade de Harvard, lançou o debate, ao chamá-lo de "puro veneno" - uma classificação que os três nutricionistas ouvidos pelo DN acham exagerada. Não consideram, no entanto, que seja uma opção mais saudável ou melhor do que o azeite.
Na conferência "Óleo de coco e outros erros nutricionais", na Universidade de Friburgo (Alemanha), Karin Michels disse que esta substância é "uma das piores coisas que se pode comer", já que o seu alto teor de gorduras saturadas (mais de 80%) eleva os níveis de colesterol, aumentando o risco de doenças cardiovasculares. Uma intervenção partilhada no YouTube e vista mais de um milhão de vezes.
Para Nuno Borges, membro da direção da Associação Portuguesa de Nutrição (APN), "houve uma promoção excessiva e não fundamentada do óleo de coco, por gente que sabia pouco do assunto", o que poderá ter sido originado por "interesses, desconhecimento ou ignorância".
Segundo o nutricionista, a substância "sempre foi o que é: uma gordura saturada sem interesse". Isto porque, explica, "tem um teor muito elevado de gorduras saturadas", associadas a doenças cardiovasculares, AVC e enfartes. Contudo, sublinha, também "não lhe chamaria 'puro veneno'".
Visto por muitos como a cura para todos os males, chegou a ser apresentado como um superalimento. "Não há nada no óleo de coco que faça dele um superalimento, mas também não é um veneno", diz Pedro Carvalho, professor da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, destacando que "não tem nenhum benefício do ponto de vista cardiovascular e aumenta os níveis totais de colesterol [do chamado 'bom' e do 'mau']".
Segundo o nutricionista, este óleo tornou-se mais popular nos últimos anos, associado também à dieta do paleolítico. "E ganhou notoriedade porque vem de um alimento diferente, é uma gordura um pouco exótica", refere o autor do livro "Os mitos que comemos". Há a perceção errada, prossegue, de que é mais saudável. "Mesmo sendo vegetal, é a que tem mais ácidos gordos", alerta Pedro Carvalho.
Além de não ter benefícios do ponto de vista nutricional, "é uma gordura como todas as outras, com um aporte calórico muito grande". Ao contrário do que algumas pessoas defendem, "não emagrece". "Há pessoas a consumir óleo de coco porque acham que vão emagrecer, mas isso não acontece", sublinha o nutricionista.
Atualmente, lamenta Nuno Borges, o óleo de coco "é usado para substituir o azeite, que é muitíssimo melhor" e mais barato. Da lista de gorduras mais interessantes, o nutricionista destaca, ainda, o óleo de milho, girassol ou amendoim.
A nutricionista Lillian Barros tem uma opinião um pouco diferente: "É uma gordura saturada, é certo, mas hoje sabe-se que não tem um impacto tão negativo na saúde cardiovascular como se pensava". Segundo a fundadora do Nutricionistas Online, "há médicos, professores e nutricionistas que até a veem como necessária".
Ressalvando que "tudo o que é em excesso faz mal", Lillian Barros considera que "o óleo de coco pode ser introduzido na alimentação, mas com bom senso", já que se trata de um "alimento natural e minimamente processado, se for extraído a frio". Mas não faz sentido que substitua o azeite, por exemplo.
Entre os benefícios deste óleo, a nutricionista destaca que é rico em "triglicerídeos de cadeia média, que são rapidamente absorvidos pelo organismo e o elevado ponto de ebulição, o que faz dele uma boa gordura para utilizar em confeções a elevadas temperaturas, mas também a cru". Além disso, sublinha, "o ácido láurico, presente no óleo de coco, parece estar relacionado com a melhoria do perfil lipídico (razão colesterol HDL/LDL), o que faz dele um ácido gordo saturado e saudável".