"Ser presidente? Não tenho essa ambição, estou bem onde estou"
Terminou a carreira com 36 anos no Blackburn Rovers. Não teve oportunidade de fazer um último ano num eldorado?
Fui sempre adiando a decisão de ir fazer um ano aos Estados Unidos, ao Dubai ou ao Qatar por achar que seria o fim da minha carreira como jogador. Mas vou ser sincero: quando o quis fazer as portas já estavam fechadas. Mas também já estava com 36 anos! Queria juntar o útil ao agradável e jogar um ano em Nova Iorque. Estive ainda em negociações com o Cosmos, mas acabei no Blackburn Rovers. Depois pensei: ou é para os Estados Unidos ou arrumo as botas. Estive lá um mês e meio, mas acabou por não se concretizar. Quando regressei decidi arrumar as botas, até porque já estava quase há seis meses sem jogar.
Qual a melhor recordação que guarda de um jogo de futebol?
Foi quando o Benfica foi campeão no Bessa, o meu primeiro titulo de campeão pelo Benfica (na temporada 2004--05). Foi das melhores coisas que me aconteceram no futebol. Também gostei muito de ter participado nos Jogos Olímpicos de Atlanta em 1996. Apesar de na altura o futebol não estar muito imbuído no espírito olímpico, gostei pela experiência. Posso dizer que estive em campeonatos da Europa, Mundial e nos Jogos Olímpicos.
E a pior recordação?
A momento da morte do Miklos Fehér. Eu não estava em campo naquele dia em Guimarães. Estava em Lisboa, a recuperar de uma lesão, em casa a ver o jogo pela televisão. Foi o momento mais difícil...
Há algum falhanço daqueles flagrantes que ainda hoje recorde e pense como foi possível falhar aquele golo?
[risos] Alguns adeptos vão gostar da minha resposta. Tenho mais do que um! Houve alguns falhanços de levantar milhares de pessoas no estádio a chamar-me nomes. Há um, num jogo com o Espanyol para a Liga Europa [2007], que ainda hoje, às vezes à conversa com o Rui Costa, recordamos esse lance. Ele cruzou uma bola e eu estava a meio metro da linha de golo. Decidi fazer um carrinho para entrar com a bola pela baliza dentro. Mas a bola não entrou. Dava-nos a passagem às meias--finais [o Benfica tinha perdido na primeira mão por 3-2 e empatou a zero no Estádio da Luz].
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Teve dezenas de treinadores ao longo da carreira. Qual aquele que mais o marcou?
Respondo sempre que foi o primeiro, no Amarante, o meu treinador mesmo oficial nos infantis, o Sr. Chantre. Mais do que um treinador, era um pai. Marcou--me pela forma de ser e não tanto por aquilo que nos ensinava, pois se calhar a minha capacidade na altura, com 10, 11 anos, não era muita. Depois, mais a nível profissional, marcou-me muito o Fatih Terim, na Fiorentina [2000--2001]. É engraçado porque tem muito mais que ver com relação dele como ser humano do que do treinador que era. Tinha muito a ganhar por ser a pessoa que era. Um motivador de homens, um grande líder. Muitas vezes entrávamos em campo para lutar por uma pessoa de que gostávamos.
E o colega de ataque com quem mais gostou de formar dupla?
Tive a felicidade de jogar ao lado de grandes jogadores. O João Vieira Pinto, o Jimmy, o Miccoli, o Cardozo... Sentia-me sempre melhor a jogar com um apoio na frente, embora o João Pinto e o Micolli sejam diferentes do Jimmy ou de um Bryan Deane. Para as minhas características gostava mais de um Jimmy, um Deane ou um Cardozo, que me facilitavam a vida. Mas não posso deixar de falar em João Pinto, Miccoli e mesmo no Saviola.
Está nas suas ambições um dia tornar-se presidente do Benfica?
Não, não tenho essa ambição. Não faço planos a médio ou longo prazo até porque não sabemos o dia de amanhã. Mas sinceramente não tenho essa ambição e sinto-me bem onde estou. Já representei o Benfica noutras funções [diretor das relações internacionais], hoje estou noutras [diretor da formação], amanhã posso mudar. Sinto-me realizado por estar a trabalhar no Benfica seja em que função for.