Ser ou não ser Joaquin Phoenix, eis a questão

'I'm still here', o falso documentário de Casey Affleck, chega hoje aos cinemas.
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Joaquin Phoenix foi ao Late Show de David Letterman, em Janeiro de 2009, para promover o filme de James Gray, Duplo Amor, do qual era co-produtor, além de principal intérprete, ao lado de Gwyneth Paltrow e Vinessa Shaw.

Mas em vez de "vender o produto", trocar graçolas com o apresentador e passar a mão pelo pêlo do público, Phoenix, que apareceu de óculos escuros, cabelo e barba crescidos, e com uns bons quilos a mais em cima, passou dez embaraçosos minutos sem dizer nada de minimamente perceptível, nem reagindo sequer às provocações gozonas de Letterman sobre o seu ar esgrouviado ("Podes dizer-nos algo sobre o tempo que passaste com o Unabomber?"). James Gray, esse, ficou fulo com o comportamento do seu actor e co- -produtor na televisão.

Logo começou a correr o rumor de que o intérprete de I Walk the Line tinha perdido a tramontana, tanto mais que, semanas antes, Phoenix havia anunciado que ia fazer uma agulha na carreira, abandonando o cinema e tentando singrar como cantor de rap e hip hop.

Houve também quem nos media americanos torcesse o nariz quer à notícia de mudança de ramo artístico quer à aparição de Joaquin Phoenix no Late Show, por cheirarem a partida de vedeta.

Poucos dias depois, o actor era gozado por Ben Stiller e Natalie Portman na entrega dos Óscares. E sabia-se que Casey Affleck, amigo e cunhado de Phoenix, estava a rodar um documentário "muito realista" sobre a sua transição de actor para rapper. Este incluiria cenas impressionantes do estado de degradação física e desatino psicológico do actor. Nas suas raras aparições públicas, Joaquin Phoenix surgia com o mesmo ar desalinhado e dessincronizado da realidade com que tinha aparecido no programa de Letterman.

Em Setembro, o filme de Casey Affleck, intitulado I'm still here, tinha a sua antestreia mundial no Festival de Veneza, apresentado como um documentário sobre o colapso de uma vedeta estimável, feito em estilo de cinéma-verité. Ali, o realizador repetiu que o filme era "verdadeiro" e não uma encenação.

Como Affleck tinha andado coladinho ao cunhado, este aparecia a meter cocaína pelas narinas dentro, a contratar prostitutas, a tratar abaixo de cão os seus assistentes, a vomitar, a revelar que era uma nulidade como rapper e a ter estados de alma lancinantes sobre a condição existencial do artista.

Poucos dias após I'm still here se ter estreado nos EUA, em meados de Setembro, Casey Affleck e Joaquin Phoenix vieram a público revelar que o filme era todo encenado, que David Letterman não sabia de nada mas a família e os amigos mais próximos sabiam de tudo, e que se a distribuidora não os tivesse pressionado teriam mantido o silêncio sobre se a fita era ou não "verdadeira".

Mesmo sendo o filme mais debatido do ano, I'm still here foi recebido com muitas reservas pela crítica nos EUA, e não entusiasmou minimamente as bilheteiras. Por se ter interpretado a si próprio num falso documentário a fingir que tinha perdido o norte, Joaquin Phoenix pode ser nomeado para o Óscar de Melhor Actor.

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