Senhor de umas listas negras inconfundíveis
Conservação. Vive em grupos, embora o grau de sociabilidade não seja muito elevado. O texugo é uma espécie relativamente comum, mas a sua densidade depende da abundância de dois recursos: alimentação e locais propícios para cavar os texugueiros (tocas)
Já diz o adágio popular que "a virtude está no meio" e, ao que parece, o texugo decidiu fazer jus ao dito. "É muito interessante em termos ecológicos, porque está a meio caminho entre as espécies sociais (como o lobo) e as solitárias, que são mais comuns (como a gineta).
"Vivem em grupo, partilham tocas por eles escavadas (texugueiros), mas não têm organização social. Por exemplo, podem realizar em comunidade as tarefas de manutenção da toca, mas por outro lado não saem juntos para caçar", refere Miguel Rosalino, vice-presidente da Associação Carnívora. "De forma muito rudimentar, poderá dizer-se que este mamífero é capaz de estar ainda a passar pelas várias etapas até atingir a complexidade da organização do lobo", acrescenta.
À semelhança do que acontece com a maioria dos animais da sua família, é escassa a informação biológica e ecológica sobre o texugo, o trabalho de campo é dispendioso e as verbas não abundam. Sobre a comunicação, apenas se lhe conhecem vocalizações "que não se sabe bem no geral o que significam, só que são diferentes segundo as alturas do ano ou o que o animal está a fazer", conta Miguel Rosalino.
Detentores de um olfacto muito apurado, este "também pode ser entendido como um meio de comunicação", segundo o especialista, "pois eles marcam território através de secreções expelidas pelas glândulas que possuem junto ao ânus."
Inconfundível graças às grandes listas que começam no nariz e continuam ao longo de todo o focinho, o texugo euroasiático é mais ou menos comum - não está nem em vias de extinção, nem em perigo, existem exemplares um pouco por toda a Europa, à excepção do Norte da Escandinávia e da Rússia. Mas é preciso ter em conta que a cada 40 animais que podem encontrar-se em Inglaterra numa extensão de dois km2 corresponde um em Portugal, onde, aliás, os grupos são muito mais pequenos, na ordem dos oito animais - quatro adultos e quatro crias.
A alimentação está associada aos locais propícios para construir texugueiros. "Se falha um dos recursos ou a sua abundância, baixa a densidade das populações", refere o biólogo que encontrou neste bicho a fonte de inspiração para a sua tese de doutoramento, tendo para o efeito estado associado ao longo de quatro anos a um projecto levado a cabo em Grândola, do qual saíram os últimos estudos por cá publicados sobre a espécie.
O texugo, que em Portugal não costumam ultrapassar os 10 kg de peso e medir entre 67 e 80 cm, é omnívoro e um oportunista no que diz respeito ao comer. Em Portugal alimenta-se sobretudo de frutos (azeitonas, bolotas, nêsperas, ameixas, pêras e figos) e insectos (como aranhas e centopeias), mas também preda pequenos mamíferos, como ratos e musaranhos. Ocasionalmente come minhocas, moluscos, anfíbios, répteis e até aves, que busca incessantemente em patrulhas, por vezes de mais de dez horas, pelos seus territórios de caça.
Uma das curiosidades relativas à sua reprodução é que seja quando for que se dê o acasalamento as crias só vão nascer nos primeiros meses do ano, isto graças à chamada implantação diferida ou retardada. Esta consiste em que após a cópula, dá-se a suspensão do desenvolvimento do embrião pois o ovo fecundado só se implanta no útero três a dez meses mais tarde, "na altura precisa para que as crias nasçam no inicio da Primavera, quando há mais alimento, e portanto mais chances de sobreviverem", diz Miguel Rosalino.
Ao fim de um período de gestação de sete semanas, é normal cada ninhada ser de uma a cinco crias (três, em regra) que ficam na toca até às oito semanas. Nascem habitualmente entre Janeiro e Abril e, como acontece com todos os mamíferos, os cuidados parentais ficam por conta da fêmea, que cuida dos jovens até ao primeiro Outono e, por vezes, até ao primeiro Inverno. Os machos atingem a maturidade sexual entre 1 e 2 anos de idades e as fêmeas entre 12 e 15 meses. O texugo pode viver até aos 14 anos no estado selvagem e até aos 16 anos em cativeiro.
De hábitos nocturnos e muito discreto, evitando a aproximação com humanos, as principais ameaças para este animal são hoje, depois de proibida a sua caça em 1986, a fragmentação do habitat, devido à desflorestação e à construção de novas estradas, e a morte por atropelamento.|