Senador republicano diz que escravatura foi "mal necessário"
Debaixo de fogo, o senador do Arkansas Tom Cotton reafirmou o seu comentário sobre a escravatura e a fundação dos Estados Unidos em entrevista concedida ao Arkansas Democrat-Gazette no domingo.
Ao jornal do seu estado, Cotton afirmou: "Temos de estudar a história da escravatura e o seu papel e impacto no desenvolvimento do nosso país porque, caso contrário, não conseguimos compreender o nosso país. Como disseram os pais fundadores, foi o mal necessário sobre o qual a união foi construída, mas a união foi construída de uma forma, como disse Lincoln, para colocar a escravatura no caminho da sua extinção final."
Os críticos argumentaram que esta declaração foi uma justificação da escravatura imposta aos afro-americanos, e que revela uma visão supremacista. No Twitter, o senador cujo apelido significa algodão, matéria-prima na qual milhares de escravos trabalharam, reiterou o ponto de vista.
Numa mensagem disse que é assim que se criam fake news, e noutra que se limitou a citar os fundadores, o que não significa que apoie ou justifique a escravatura.
Ainda na entrevista, Cotton disse que em vez de se retratar os EUA como "um país irremediavelmente corrupto, vil e racista", deveria ser visto "como uma terra imperfeita e com falhas, mas o maior e mais nobre país da história da humanidade".
Os comentários de Cotton surgiram a propósito de uma proposta de lei que apresentou para impedir apoios federais às escolas que ensinem matéria de história do Projeto 1619.
Trata-se de um projeto de investigação desenvolvido pela jornalista premiada com o Pulitzer Nikole Hannah-Jones para a The New York Times Magazine, em parceria com o Pulitzer Center.
A data refere-se ao ano em que os primeiros escravos foram levados de África para a América colonial, e o projeto tem como finalidade "reenquadrar a história americana, considerando o que significaria considerar 1619 como o ano de nascimento da nação"
Para Cotton, o Projeto 1619 é "propaganda de esquerda. É a história revisionista no seu pior", além de considerar "racialmente fracturante".
O Projeto 1619 não está livre de críticas, de facto. Hannah-Jones afirmou que a revolução americana aconteceu em reação ao movimento abolicionista britânico, tendo argumentado que "uma das principais razões pelas quais os colonos decidiram declarar a sua independência do Reino Unido foi porque queriam proteger a instituição da escravatura e assegurar que a escravatura continuaria".
Alguns historiadores entraram em desacordo, tendo recordado que muitos dos principais revolucionários se opuseram à escravatura e que a Nova Inglaterra, berço da revolução, foi também um bastião antiesclavagista.
Cinco historiadores instaram o New York Times a proceder a correções relativas ao Projeto 1619. O jornal acabou por ceder e hoje a tese é a de que a preservação da escravatura foi uma motivação para apenas "alguns dos colonos".
Tom Cotton foi responsável por outro episódio recente com o periódico de Nova Iorque. Em junho, escreveu um artigo de opinião, "Enviem as tropas", no qual defendia a utilização das forças militares para reprimir os protestos nas ruas contra a violência policial e o racismo. Em consequência, um abaixo-assinado subscrito por 800 trabalhadores do jornal criticou a publicação do texto, tendo alegado que continha "desinformação".
Numa nota publicada mais tarde, a direção reconheceu que o texto de título "incendiário" não devia ter sido publicado, pelo menos sem ter sido objeto de revisão. James Bennet, o editor das páginas de opinião, que não leu o previamente o texto, demitiu-se.
Nas eleições de novembro, o senador republicano não vai enfrentar oposição dos democratas. Isto porque o candidato Josh Mahony, duas horas depois do prazo legal para o Partido Democrata poder apresentar um candidato, desistiu. Mahony alegou um problema de saúde familiar. Cotton irá a votos com um candidato independente e outro libertário.