"Sempre tive uma voz no coração." Bárbara Timo ganha bronze nos Mundiais
Bárbara Timo conquistou este domingo a medalha de bronze na categoria de -63 kg nos Mundiais da modalidade que estão a decorrer em Tashkent, no Cazaquistão. Foi a segunda medalha da judoca em campeonatos do Mundo, depois de em 2019, já após se ter naturalizado portuguesa, ter sido vice-campeã mundial em Tóquio, mas na categoria acima, de -70 kg.
"É incrível. Toda a minha mudança, tudo o que fiz para chegar até aqui e no final estas medalhas, hoje concluo que correspondi às minhas expectativas, sempre tive uma voz no coração que eu podia mais, que eu conseguiria mais, ter êxito entre as melhores do mundo", disse, visivelmente emocionada.
Na hora dos agradecimentos, enfatizou o Benfica, o seu clube, o presidente encarnado, o vice Fernando Tavares, a coordenadora Ana Oliveira, os treinadores, entre os quais Ana Hormigo, mas também os companheiros de equipa e a Federação, com quem teve recentemente um litígio, que não evocou. "Para a semana faz um ano de Paris [e da mudança de categoria], o que era uma aposta, hoje concretizo como uma certeza (...). A única parte individual é quando entro no tapete e aqui emociono-me, porque fora disso é toda uma equipa por trás", assinalou a judoca.
Além das seis oponentes no tatami, há um sétimo combate que Timo diz fazer parte do processo, o da luta com a balança, numa fase de carreira em que é preciso forte restrição alimentar, para manter o peso e quando se desceu, ao contrário do que é habitual, de categoria: "Sem rodeios. A minha competição começa no peso, fiz seis lutas hoje, mas considero que faço sete, a primeira é com a balança, há sempre uma preparação para isso."
Timo, que desceu há um ano dos -70 kg para os -63 kg, continua a mostrar que é uma atleta de elite: ao vice-título na categoria mais pesada já somou, após a mudança de peso, medalhas nos Grand Slam de Paris (ouro) e em Antália (bronze), e a deste domingo no Cazaquistão.
Foi um dia quase perfeito para a judoca que trocou no início de 2019 o Brasil por Portugal, num processo de naturalização que tinha como grande meta a entrada nos palcos principais, em especial nos Jogos Olímpicos.
Embora já tivesse resultados significativos no seu país de origem, em que a concorrência e a base de judocas é muito alargada, foi com Portugal que a atleta, nascida no Rio de Janeiro, conquistou duas medalhas em Mundiais.
Bárbara Timo passa, desde este domingo, a fazer parte de um leque muito restrito de judocas portugueses.
Apenas Telma Monteiro, quatro vezes vice-campeã mundial e uma vez bronze, e o bicampeão mundial em título em -100 kg, Jorge Fonseca, que irá competir em Tashkent amanhã, têm mais do que uma medalha em campeonatos do mundo.
Neste domingo, Timo deixou a ideia de não ter conseguido estar na final porque no seu caminho se atravessou a nova campeã mundial, com Megumi Horikowa a reforçar o poderio nipónico na capital uzbeque.
Antes da meia-final em que saiu derrotada na sequência de um "ippon" a que bastaram 10 segundos de imobilização, depois de sofrer um primeiro "waza-ari", a meio do combate -, atleta tinha ganho os quatro combates anteriores
Sem ser cabeça de série, quando ainda progride no "ranking" face à mudança de peso, a judoca teve de arrancar desde a primeira ronda, vencendo sucessivamente a sérvia Anja Obradovic (43.ª), a eslovena Andreja Leski (sexta), a neerlandesa Geke Van den Berg (22.ª) e a polaca Angelika Szymanska (15.ª).
Uma sequência apenas travada nas meias-finais, mas na luta pelo bronze a judoca portuguesa mostrou que também era o seu dia. No reencontro com a romena Florentina Ivanescu, a quem tinha derrotado em abril no Grand Slam de Antália, Bárbara Timo voltou a ser mais forte, "segurando" um "waza-ari" a 1.41 minutos do final do combate, o suficiente para chegar ao bronze.
Nasceu no Brasil e começou a fazer judo aos oito anos. A competitividade e a filosofia de respeito mútuo que caracterizam a modalidade seduziram-na de imediato. "No meu primeiro torneio, tinha eu uns 9 anos, lutei com meninos, e ganhei a eles todos! Recordo que fiquei muito feliz, pois vencer os rapazes e ganhar o meu primeiro ouro, no primeiro torneio em que participei, era e foi realmente muito bom", contou ao jornal Benfica, clube que representa desde 2019.
Foi evoluindo e começou a competir. O talento era indesmentível e chegou à seleção do Brasil aos 21 anos. "Quando surgiu a oportunidade de ir aos Jogos Olímpicos e representar Portugal, abracei essa oportunidade e vim para cá", contou a judoca de 30 anos, confessando que a mudança "foi difícil". A amiga Telma Monteiro e o Benfica ajudaram a atenuar dificuldades.
O sonho olímpico trouxe-a a Portugal. É cidadã portuguesa desde 2018: "Naturalizar-me portuguesa foi pelo sonho que tenho, pelo sonho olímpico e tudo o que vinha no pacote: o sonho, a valorização que ia ter cá em Portugal." Com LUSA