Semanologia
D de Democracia, F de França - a democracia diminui na Europa. Azerbaijão, Bielorrússia, Rússia, Sérvia, Turquia são exemplos sistémicos. A Polónia e Hungria, a Eslovénia, inspiram sérias preocupações. Portugal, com mais alguns países europeus, revela um decréscimo na sua qualidade. A França é um dos pilares da democracia no continente. A primeira volta das eleições legislativas de domingo passado, ocorre na sequência do eclipse do Partido Socialista francês (1,7% dos votos nas presidenciais de 2022). Entretanto, em 2016, tinham surgido duas novas forças políticas: a République en Marche (Centro) de Emmanuel Macron e a France Insoumise (Esquerda Radical) de Jean-Luc Mélenchon. A "geringonça à francesa" - coligação do partido de Mélenchon com o PS francês, o Partido Comunista e os Verdes (NUPES) e criada para este ato eleitoral, está empatada, na primeira volta, com a formação de Macron. Duas visões muito diferentes da França vão decidir o futuro da Europa no próximo domingo.
V e O de Verdade e Opinião - Decorre no Congresso dos Estados Unidos a apresentação de conclusões e audições do comité responsável por esclarecer a verdade dos factos na raiz da violenta invasão do Capitólio, em Washington DC, a 06 de janeiro de 2021. A verdade é uma afirmação superior da consciência humana, esse estado complexo de aproximação, processamento e elaboração racional e afetiva. Tem uma dimensão física - ligação ao mundo exterior; psíquica - o exercício da mente; e ético-moral - os modos como se categoriza, julga e se procede face à apreensão das dinâmicas de interação entre a pessoa, a comunidade e o ambiente. A consciência é orientada pela dimensão ético-moral e pode ser manipulada. A intoxicação comunicacional nas sociedades contemporâneas desvaloriza a verdade. Forças políticas, económicas, sociais, culturais, promovem batalhas predatórias da dimensão ético-moral da consciência. Cada vez mais, esta predação diminui o livre arbítrio e constrói exércitos de opinião instrumentalizada. A afirmação reiterada e mentirosa de Donald Trump sobre os resultados das eleições que deram a vitória a Joe Biden associada à evidência de um plano para impedir que a vontade dos eleitores americanos prevalecesse é forte. Mas é negada por uma parte importante do Partido Republicano, com o suporte e ampliação da mentira por media influentes como a Fox News. 40% do eleitorado americano é da opinião que a presidência foi "roubada" a Trump. A opinião pode definir-se como o ponto de vista individual ou coletivo face a determinada matéria. A existência e valorização da opinião individual corresponde a um progresso social extraordinário ao longo de séculos. Mas é preciso refletir sobre como a reificação da opinião individual desvaloriza o papel das opiniões autorizadas e como a "opinião pública" é enganada. No período que medeia os tempos que se convencionou chamar Renascença e a Idade Contemporânea, a opinião autorizada provinha, nomeadamente, de intelectuais, de académicos, de clérigos, de literatos, de cientistas. Na sociedade atual, os media "inventam" a autoridade. Indivíduos sem nenhuma história pessoal de competências adquiridas em domínios que a exigem falam de tudo e de nada. Enlatados como os programas de comentários televisivos e radiofónicos produzem novas autoridades. A maior parte das vezes, estas "autoridades" não são pessoas, são meros peões, papagueando a cartilha do seu grupo de interesses, saltando do desporto para a política, da TV para lugares públicos. O povo ouve, o povo vê. E no seu juízo ético-moral, acredita. Afinal, os doutores da televisão é que sabem...
P de pássaros - desde as cinco e meia da manhã a trinar, organizam o esplendor. Nem oiro, incenso e mirra podem tanto como a proclamação da aurora. Um céu aberto, estio dos primeiros dias. Porque cantam os pássaros? O mais importante não é saber. Antes e simplesmente a paz instalada no começo.