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D de Desgoverno - Em Portugal, em 2020, 18,4% dos agregados familiares eram pobres, mesmo considerando pensões e transferências sociais (rendimento da família abaixo de 540€). Um milhão e seiscentos mil pobres contados. Todavia o risco de pobreza em 2020 era superior a 21,6% e é provável que as estatísticas confirmem estes valores. Tal significa que, de 2000 a esta parte (20% de pobres nesse ano), Portugal não só não reduziu a pobreza como esta aumentou. Nos últimos 30 anos, o Partido Socialista esteve 22 anos no governo. Nestes anos, a dívida pública mais que duplicou - era 54,2% do PIB em 2000 e é 135% do PIB agora - a 10.ª maior dívida nacional do mundo. Os salários médios diminuíram. A convergência do nível de vida em Portugal com a média europeia é menor nos últimos 25 anos do que era em 1995. Quase 500 000 portugueses (sim, meio milhão) emigraram de 2016 a 2021 - durante o proclamado "paraíso" da governação socialista. Nos últimos sete anos de governos PS o que temos? O primeiro-ministro, na passada quinta-feira, anunciou um subsídio alimentar de emergência a um milhão de famílias. Não, não é uma boa notícia. É antes o rosto do desgoverno. Deixem-me fazer uma provocação, que é simplista, mas se percebe: na Coreia do Norte, funciona o modelo de Sistema Público de Distribuição, uma herança soviética desenvolvida para garantir o controlo do Estado sobre os cidadãos, trocando trabalho por comida. Mais de 60% da população, segundo dados das Nações Unidas, depende quase em exclusivo do Estado para se alimentar. Em Portugal, ao dar-se alimentos a, aproximadamente, 3 milhões de portugueses, já conseguimos a bela meta de 30% de Sistema Público de Distribuição e demonstra-se a incapacidade de as famílias de gerarem rendimentos para as necessidades básicas. Correlativamente, verifica-se a incapacidade de o governo dar aos portugueses condições de vida. Mas com o favor de muitos media e o glamour do turismo, as perceções não refletem este vergonhoso estado das coisas.

CitaçãocitacaoO primeiro-ministro, na passada quinta-feira, anunciou um subsídio alimentar de emergência a um milhão de famílias. Não, não é uma boa notícia.esquerda

D de Derrota - Henry Kissinger no último Fórum de Davos, tal como fez ao longo dos últimos 70 anos, propôs uma visão pragmática na decisão política, sugerindo que a Ucrânia deve entregar à Rússia a Crimeia, retirando-se a Rússia dos restantes territórios ocupados. Procura-se evitar uma aliança sino-russa a médio e longo prazo e os riscos de uma guerra mundial. Para atingir este objetivo podem branquear-se os crimes de guerra russos? As eventuais cedências europeias e ucranianas à Rússia vão impedir atos similares a esta invasão e os seus horrores? Diz-se que, nomeadamente, está em causa "salvar a face" a Putin. Porque a Ucrânia pode, com o apoio do Ocidente, numa guerra convencional, ganhar. Trata-se de evitar a humilhação da derrota. É verdade que quem ganha deve sempre procurar não humilhar quem perde. Mas esta precaução é válida para o momento posterior à vitória. O contributo ativo do Ocidente à preservação de Putin no poder faz sentido? A Rússia não corre o risco de desagregação que se verificou no Iraque e na Líbia, se Putin for substituído. E sendo que nenhum ataque militar do Ocidente à Rússia é previsível, por outro lado, a derrota de Putin na Ucrânia não será a derrota da Rússia, por mais que este queira que assim pareça. Salvar a face da Rússia, sim, mas não a de Putin.

P de Partir - Já me despedi tantas vezes. Dizer adeus. Há sempre alguém que parte. Percebo, agora, que partir é uma dor íntima e evidente. Não assim quando ficamos ou vamos na juventude. Mais tarde, os que vão, essenciais para a inteireza em nós, ficam por substituir. Há novos encontros possíveis, alguns porventura radiosos. O novo não convida nem ao olvido ou a uma mentira - quem foi não importa. A desaparição do pai, da mãe, do filho, do homem, da mulher, a falta de quem nos faz falta, como a ocupar? Fica o soberano lugar vazio. A ausência é uma forma de presença.

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