Budha Magar, 43 anos, antigo membro do exército britânico nascido no Nepal, vai iniciar em maio o desafio de uma vida: tentar tornar-se no primeiro duplo amputado acima dos joelhos a atingir o cume do Monte Evereste, a montanha mais alta do mundo, cujo pico está situado a 8.848,86 metros acima do nível do mar..O ex-soldado, que já tem várias histórias de superação em termos de escaladas de montanhas, serviu o exército britânico durante 15 anos. Mas em 2010 deu-se a tragédia - perdeu as duas pernas numa missão no Afeganistão, ao pisar uma mina..Durante 18 meses entrou numa profunda depressão, com tendências suicidas e entregou-se ao alcoolismo - "pensei que a minha vida tinha terminado, pensei muitas vezes em suicidar-me, comecei a beber demasiado e tornei-me alcoólico", admitiu numa das muitas entrevistas que tem dado..Twittertwitter1648756894280867847.Até que uma conversa com um ex-combatente mudou-lhe a vida. Começou a praticar desportos e encontrou nestes desafios o escape que precisava para não desistir. "Foi o meu ponto de viragem, sobretudo a nível de confiança. Sempre pensei que é melhor morrer do que ser um covarde. E comecei a perceber que mesmo sem as duas pernas podia fazer um monte de coisas", contou recentemente ao The Guardian..O desporto passou a ser a sua vida - caiaque, golfe, alpinismo, ténis de mesa, arco, basquetebol, entre outros - até se concentrar totalmente no montanhismo. Em 2017 tornou-se no primeiro duplo amputado acima dos joelhos a conseguir escalar uma montanha com mais de 6000 metros, a Mera Peak, na zona dos Himalaias. E também se aventurou na Mont Blanc, Chulu Far East e Kilimanjaro..O desafio agora passa pelo Evereste. A logística não foi fácil, começando logo pela recolha de fundos (cerca de 150 mil dólares) e por tentar demover as autoridades locais a autorizarem-no a fazer a escalada, pois uma lei nepalesa de 2017, criada na sequência de várias mortes ocorridas na montanha, proibiu pessoas sozinhas, duplos amputados e cegos de escalarem o Evereste. Mas conseguiu a autorização e a expedição está prestes a arrancar - terá início nas duas primeiras semanas de maio, dependendo do estado do tempo..A aventura foi pensada ao pormenor (terá uma grande equipa a acompanhá-lo) e Budha Magar vai utilizar uma prótese especial feita unicamente para este desafio, com espigões para agarrar melhor ao solo. Mas toda a força será à base dos braços. "A prótese foi concebida por um montanhista norte-americano e são muito úteis. Estou completamente preparado e espero conseguir cumprir a minha missão com êxito, mas nada está garantido. Basicamente vou escalar o Evereste com a força dos braços e mãos. Diria que 60% da escalada será feita com as mãos.".Só para se ter uma ideia da façanha, e devido às suas enormes limitações, o aventureiro nepalês irá levar três vezes mais tempo a chegar ao pico do Evereste do que uma pessoa normal. Será uma escalada de mais de 60 horas, descontando o tempo em acampamentos e a descansar. Mas nada que o faça desistir da ideia: "Não sabia o quanto a mente pode ser poderosa. Pensava que era tudo uma questão física. Mas se nos mentalizarmos, o nosso corpo consegue.".Twittertwitter1648744618941632512.Budha será acompanhado neste desafio por oito sherpas e outras equipas. Em vez de quatro acampamentos durante a escalada, tem previstos cinco ou seis. Algo que o nepalês nem acha muito exagerado, lembrando os primórdios das escaladas ao Evereste: "O sir Edmund Hilary e o seu sherpa fizeram 10 acampamentos e levaram 500 carregadores.".Caso consiga concluir a odisseia, tornar-se-á no primeiro duplo amputado acima dos joelhos a consegui-lo. Anteriormente, duas outras pessoas conseguiram escalar o Evereste, mas em ambos os casos tratavam-se de duplos amputados abaixo dos joelhos. O neozelandês Mark Joseph Inglis foi o primeiro, em maio de 2006. E mais recentemente, em 2018, o chinês Xia Boyu também concluiu o proeza. Agora é a vez de Budha Magar fazer história..nuno.fernandes@dn.pt