Sem ganhar desde 2008, Estados Unidos tentam o resgate da Ryder Cup
Samuel Ryder fez fortuna com uma ideia de negócio: vender sementes para jardinagem em pequenas embalagens, que passou a enviar por comboio para qualquer parte do Reino Unido, ainda no final do século XIX. Mas foi o seu amor tardio pelo golfe que lhe eternizou o nome numa das mais importantes competições desportivas do mundo. Em 1926, já sexagenário, o empresário de Preston, que começara a frequentar os greens a conselho médico, por motivos de saúde, resolveu doar um troféu para impulsionar a ideia de um duelo entre os melhores golfistas britânicos e norte-americanos. Assim nasceu a Ryder Cup, que se transformou na mais icónica competição do golfe mundial - e que hoje inicia a sua 41.ª edição.
Entre aqueles tempos do patrono Ryder e os dias de hoje, a Ryder Cup foi sofrendo algumas alterações. A equipa britânica alargou-se primeiro à Irlanda (em 1973) e depois, a partir de 1979, a toda a Europa, para assumir o figurino atual. Mas o espírito original mantém-se: um duelo entre os melhores golfistas dos dois lados do Atlântico.
O que se tem alterado bastante nos últimos anos tem sido a relação de forças entre as duas seleções. Principalmente neste século XXI, em que os europeus ganharam até agora seis das sete edições realizadas, entre elas as últimas três consecutivas, reduzindo drasticamente o largo domínio histórico dos norte-americanos - que conquistaram o troféu, por exemplo, 13 vezes ininterruptas entre 1959 (a última edição ganha por uma equipa exclusivamente britânica) e 1983 e ainda lideram confortavelmente o duelo por 25-13, com dois empates.
A task force americana
A derrota em Gleneagles, Escócia, há dois anos, fez disparar os alarmes entre os golfistas norte-americanos. As críticas duras de Phil Mickelson, um dos mais carismáticos jogadores das terras do Tio Sam, vencedor de cinco majors e já um veterano desta Ryder Cup (com dez participações), aceleraram a reação e os Estados Unidos criaram uma task force exclusivamente dedicada a resgatar a taça.
Um grupo composto por 11 antigos capitães, jogadores e dirigentes da PGA (associação de golfistas profissionais) americana repensou os critérios de qualificação e seleção, deu voz aos jogadores e nomeou um novo capitão, Davis Love III, que já tinha sido o responsável pela equipa dos EUA que perdeu a edição de 2012 em casa, em Medina, naquela que ficou para a história como uma das mais espetaculares reviravoltas de sempre (o milagre de Medina), quando a Europa recuperou no último dia uma desvantagem de quatro pontos.
Este ano, os norte-americanos voltam a acolher a prova, no Hazeltine National Golf Club, no Minesota, e entram em campo com um raro sentido de emergência, "impedidos" de perder por uma inédita quarta edição consecutiva (última vitória foi em 2008) se não quiserem ficar na história pelos piores motivos. "Precisamos de uma vitória. Se continuarmos a perder, os fãs americanos vão dizer: "Que se lixe! Vamos ver outra coisa qualquer"", alerta o capitão Davis Love III, que conta com Tiger Woods, a antiga estrela caída em desgraça nos últimos anos, entre os seus vice-capitães.
"Acho que temos uma grande oportunidade", diz Phil Mickelson, o veterano que volta a integrar a equipa dos EUA. "Pela primeira vez em 20 anos os jogadores foram realmente envolvidos na preparação desta Ryder Cup", saúda o Lefty, como é conhecido o esquerdino.
Para os americanos há ainda um outro fator sentimental extra: a morte recente de Arnold Palmer, um dos nomes maiores da história do golfe e um dos maiores entusiastas da Ryder Cup, que venceu todas as sete edições em que participou.
Bate-boca aquece ambiente
Depois de o irlandês Rory McIlroy e de o espanhol Sergio Garcia terem reagido à sugestão do capitão americano de que esta equipa dos EUA seria "talvez a melhor equipa alguma vez reunida", lembrando que "a Ryder Cup não se ganha pela boca", foi a vez do irmão do estreante inglês Danny Willet (campeão do Masters de Augusta deste ano) acicatar o ambiente num artigo em que chamou "estúpidos" aos adeptos americanos, obrigando o capitão europeu, o irlandês Darren Clarke, a condenar a linguagem: "Não retrata a nossa equipa."
A ação começa a partir das 13.30 de hoje, num primeiro dia com quatro jogos de pares em formato Foursome e outros quatro em formato Four-ball, o que se repete na jornada de sábado. Para o último dia, domingo, ficam os duelos individuais.