Sem Donald Trump nem Xi Jinping, Jair Bolsonaro será estrela em Davos
Donald Trump e Xi Jinping não vão ao Fórum Económico Mundial de Davos, Theresa May e Emmanuel Macron também não, Mauricio Macri declinou o convite. E, como a alemã Angela Merkel, o japonês Shinzo Abe, o espanhol Pedro Sánchez e o italiano Giuseppe Conte só falam no dia seguinte, Jair Bolsonaro será a estrela desta terça-feira e logo no seu primeiro exame internacional. Falará às 14.30 GMT (mesma hora em Lisboa)
Por 45 minutos e a abrir o encontro, o presidente do Brasil vai expor as diretrizes da revolução liberal em curso na economia do país, onde se supõe que venha a ser aclamado, mas também terá de enfrentar áreas sensíveis, como as políticas de migração e ambientais. A seu lado, na comitiva, Paulo Guedes, ministro da Economia, Sérgio Moro, ministro da Justiça, e o seu filho e deputado Eduardo, entre outros.
"O palco está montado para a comitiva brasileira. Falta aproveitar", escreveu a revista brasileira Exame, a propósito das ausências significativas do fórum económico e social suíço. "Sem Trump nem os principais líderes europeus, o presidente da oitava economia do mundo foi transformado em estrela do evento", acrescenta o El País, edição do Brasil.
É esperado que os discursos de Bolsonaro e Guedes na 49.ª edição de Davos soem como música aos ouvidos liberais que os vão escutar - um e outro anunciarão quantas e quais empresas públicas serão privatizadas, e explicarão, ao detalhe, como se darão a reforma administrativa, que visa o emagrecimento súbito do Estado, e o essencial da reforma previdenciária, considerado o principal objetivo do governo para 2019.
Guedes complementará ainda com um diagnóstico sobre as quatro décadas de baixo crescimento do Brasil, dirá que pretende duplicar de 1% para 2% do PIB o investimento em tecnologia e inovação e aumentar de 22% para 30% até 2022 a fatia do PIB dedicada ao comércio exterior.
Nem só de rosas - projetos liberais na economia - se fará a participação brasileira no encontro: os espinhos chegam das áreas do ambiente e das migrações, em que Bolsonaro parece estar na contramão dos discursos dos demais líderes globais (Trump excluído). "O capital adora o seu programa económico mas o militar na reserva, que elogiou o torturador na ditadura militar Brilhante Ustra, terá de suavizar a sua imagem no exterior", destaca o El País brasileiro. A saída recente do Pacto Global para a Migração e a ameaça de abandono do Acordo de Paris são, portanto, pedras no sapato de Bolsonaro.
À margem das intervenções, será discutida a situação política da Venezuela, com Bolsonaro e Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, dispostos a liderar a pressão internacional ao regime de Nicolás Maduro, e haverá um encontro entre líderes sul-americanos dedicado ao tema principal de Davos, a indústria 4.0.
Do discurso de Sérgio Moro constará a ideia-chave de que a corrupção prejudica os negócios e tira recursos de serviços essenciais, como saúde ou educação. Mas, como o presidente, o ministro também terá de defender - e de se defender - a medida que flexibiliza a aquisição de armas decretada na semana passada. O ex-juiz dividirá o palco, por exemplo, com Ilona Szabó, a voz brasileira mais conhecida contra essa flexibilização.
Entre as 350 sessões, temas como o avanço do autoritarismo no mundo - na qual estará João Doria, governador do estado de São Paulo, - ou a confiança da sociedade na América Latina - que contará com a presença do apresentador e pré-candidato às últimas presidenciais Luciano Huck - também serão acompanhadas com interesse no Brasil.
O mais velho de todos os palestrantes no evento será David Attenborough, naturalista de 92 anos preocupado com as consequências das alterações climáticas, e o mais novo o sul-africano Skye Meaker, fotógrafo de vida selvagem. O secretário-geral da ONU, António Guterres, e o príncipe William também estarão na Suíça. O facto de haver tantas ausências de peso já levou algumas vozes a defender o fim de Davos. Foi o caso de Anand Giridharadas, ex-colunista do The New York Times, que em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, na CNN, afirmou: "Davos deveria acabar."
No Brasil, entretanto, pela primeira vez em três anos um vice-presidente assume a chefia de Estado, uma vez que Michel Temer não teve número dois no seu governo. Ao general Hamilton Mourão cabe nesse período gerir o caso conhecido como Bolsogate ou Coafgate, envolvendo um suposto esquema de corrupção de Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente. Para Mourão, o caso não atinge o governo.