Sem casa e sem ajuda. Porto-riquenhos desesperam

Centenas de milhares de porto-riquenhos que pediram ajuda para a reconstrução das casas destruídas pelo furacão Maria continuam à espera de uma resposta ou do recurso a uma resposta negativa. Inspetores federais são alvo de críticas
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Dez meses depois da passagem do furacão Maria pelas Caraíbas, são muitos os que continuam sem qualquer ajuda.

Segundo a NBC News, a agência federal de gestão de emergências (FEMA) recusou 335.748 pedidos de ajuda para a reconstrução das casas. Destes, mais de 43 mil recorreram da decisão. Só cerca de 7500 recursos foram atendidos.

Segundo a FEMA, os processos não têm seguimento se os requerentes não conseguirem provar danos suficientes, se não responderem ao contacto para uma inspeção ou se a agência for incapaz de provar que é o proprietário da casa.

Este último caso é um dos mais complicados. Muitas famílias não têm documentação que comprove a ligação à propriedade.

Ramón Paez Marte, conta a NBC, obteve dos funcionários da sua autarquia, Canóvanas, uma carta a reconhecer que é proprietário e que vive na sua casa há mais de duas décadas.

"A última carta que recebi deles [FEMA] dizia que não ficou demonstrado de que somos os proprietários", lamentou.
"Não vivo aqui porque quero. Ninguém vive aqui de bom grado. Sinceramente, estamos aqui porque não temos outro sítio para ir", disse Paez Marte.

Inspetores sem formação

A FEMA, que neste ano teve um corte no orçamento de 3,7%, é alvo de outras críticas.
"Um dos maiores problemas em relação a danos insuficientes é que muitas vezes os fiscais que supervisionavam propriedades não eram de empresas contratadas pela FEMA e não tinham a formação adequada. Muitos falavam inglês, alguns inspetores ficaram apenas dois ou três minutos [nas propriedades] e nem entraram nas casas", disse a advogada Ariadna Godreau, coordenadora de uma organização de ajuda jurídica às vítimas do furacão Maria ao jornal porto-riquenho El Nuevo Dia.

O furacão Maria atingiu Porto Rico no dia 20 de setembro. Graças aos ventos que atingiram os 280 quilómetros por hora o grau de destruição foi o maior da história da ilha, com estragos avaliados em 90 mil milhões de dólares.

Os números oficiais apontam para 64 mortos, mas um estudo publicado pelo New England Journal of Medicine conta 4600 vítimas mortais.
Um terço das mortes, conclui a investigação, deveu-se ao corte de energia e das vias de comunicação. Uma situação que se manteve nos meses seguintes.

Quando o presidente Donald Trump se deslocou a Porto Rico afirmou que o furacão não foi "uma catástrofe verdadeira como o Katrina", deu nota máxima à resposta da sua administração e numa ação de distribuição de bens, atirou rolos de papel aos habitantes.


A inação da Casa Branca havia sido alvo de críticas, em particular da mayor de San Juan, Carmen Yulin Cruz.

A mayor envolveu-se numa acesa troca de tuítes com Donald Trump.

Porto Rico é um Estado livre associado dos EUA. Os cidadãos têm nacionalidade norte-americana, mas não votam nas eleições presidenciais nem têm representantes no Senado.

2017 foi um ano particularmente duro para Porto Rico. O Estado declarou falência em maio e em setembro foi vítima dos furacões Irma e Maria.

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