Seis pontes e cinco fins de semana alargados ameaçam produtividade
Os trabalhadores que marcam as férias atentos a todas as possibilidades de as colar a fins de semana prolongados ou a feriados que dão pontes vão ter boas notícias em 2017. O calendário coloca cinco feriados a coincidir com sextas ou segundas-feiras, havendo ainda seis que calham a quintas ou terças-feiras. São mais do que neste ano. As empresas que operam no turismo, comércio e lazer veem estas miniférias como forma de reforçar a faturação; mas as contas que muitos patrões da indústria fazem é ao aumento exponencial de custos.
Entre vantagens e desvantagens, há estudos que apontam para que o custo dos feriados supere o retorno em quase 40 milhões de euros. Mas cada caso é um caso e no setor da metalurgia e da metalomecânica (o campeão das exportações portuguesas, representando cerca de 30% das nossas vendas ao exterior) calcula-se o impacto da reposição dos quatro feriados que tinham sido suspensos em 2013 e conclui-se que o valor acrescentado bruto perdido ronda os 90 milhões de euros.
Nos têxteis, outro dos grandes exportadores, também se medem custos. Paulo Vaz, diretor-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), calcula em 200 milhões de euros as perdas com o regresso dos feriados do Corpo de Deus, do 5 de Outubro, de 1 de novembro e 1 de dezembro.
Em 2012, o governo de Pedro Passos Coelho avançou com a suspensão de dois feriados civis e outros tantos religiosos, justificando a medida com o quadro de emergência financeira que o país então vivia. No início deste ano, quatro projetos de lei de PS, BE, PCP e Verdes fizeram regressar estes quatro feriados - situação que, de qualquer forma, teria de ser reavaliada, já que a medida foi delineada para quatro anos. Esta mudança aumentou de duas para cinco as possibilidades de ponte em 2016 (a última será gozada a 1 de dezembro). Em 2017, as pontes possíveis são cinco para a generalidade do país; seis para quem trabalha no concelho de Lisboa ou sete para quem equacione pôr dois dias de férias encostados a 1 de novembro, uma quarta-feira. A isto somam-se cinco fins de semana prolongados.
Para o presidente da Confederação do Turismo Português, as pontes e feriados têm um efeito positivo para o turismo, pois representam "ocasiões privilegiadas para os portugueses viajarem e fazerem refeições fora de casa", o que acaba por se traduzir de forma objetiva na rentabilidade do setor. Francisco Calheiros não dispõe de valores que revelem o benefício associado aos feriados, mas não tem dúvidas de que acabam por ter impacto junto do movimento interno de turistas - que representa 30% do mercado.
Do lado da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP), a avaliação é diferente. "Há os custos associados à mão--de-obra, a que se somam os energéticos: ligar e desligar as máquinas a meio da semana aumenta bastante a fatura energética", lembra Gonçalo Lobo Xavier, assessor da direção da AIMMAP, acentuando que o consumo de energia no arranque é de 30% superior.
A isto, refere, junta-se um outro problema que faz que as pontes ou os feriados colados ao final de uma semana agrave ainda mais os custos. É que, tradicionalmente neste setor, as sextas-feiras são o dia em que se fazem as expedições de mercadoria para o estrangeiro.
Tudo isto leva Gonçalo Lobo Xavier a sublinhar que a reposição dos quatro feriados pode ter sido uma medida muito popular, mas foi tomada sem ter em conta os efeitos na competitividade das empresas.
Paulo Vaz reforça: "É muito simpático repor feriados, mas é preciso ver que isto aumenta o número de vezes em que as indústrias têm de interromper a produção a meio da semana." A alternativa para não parar e responder às encomendas dentro do calendário é pagar o trabalho em feriado. "Só que, quando isso sucede, têm de ser as empresas a absorver este aumento de custos, porque o cliente dos EUA ou da Alemanha que nos fez a encomenda não quer saber se tivemos de trabalhar num feriado ou não e não nos vai pagar mais por isso."
Os impactos nas empresas portuguesas são óbvios para Gonçalo Lobo Xavier e para Paulo Vaz, mas Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP, faz uma leitura totalmente diferente. "O que se verificou é que a reposição dos feriados não teve qualquer consequência negativa" na competitividade da economia e em alguns setores "até foi importante para os dinamizar".