O Presidente George Bush vai receber esta semana na Casa Branca um grupo de mulheres que está a desafiar o Exército Republicano Irlandês ( IRA ). As cinco irmãs McCartney partiram ontem de Belfast para Washington, num grupo que integrava também a com- panheira do seu irmão Robert McCartney, assassinado em Janeiro por membros do IRA à porta de um pub , em Belfast. O encontro destas mulheres com Bush representa o maior embaraço dos últimos anos para os independentistas da Irlanda do Norte ..O carácter político da visita ficou claro na véspera da viagem, quando um dos máximos responsáveis do Sinn Féin (ala política do IRA ) veio a público fazer ameaças explícitas às seis mulheres. "Elas terão de ter muito cuidado. Se atravessarem a fronteira (...) para o mundo da política partidária, isso pode afectar seriamente a sua campanha", afirmou Martin McGuinness, número dois dos independentistas e principal negociador do partido.No fundo, um aviso de "não se metam na política", isto depois de a família McCartney - que é católi- ca - ter recebido uma "oferta" do IRA de matar os autores do assassínio do seu irmão. Essa proposta do conselho militar do grupo indignou o Reino Unido, mas a família reagiu, deixando bem claro que queria as pessoas envolvidas no crime a responder perante um tribunal. É esta campanha sem precedentes que está a enervar os dirigentes republicanos..Ontem, as irmãs responderam a McGuinness através de uma declaração de Catherine McCartney: "Temos de ter cuidado para não sermos usadas por ninguém, mas isso inclui o Sinn Féin e todos os partidos políticos. Não somos mulheres estúpidas." .CRIME. Robert McCartney, de 33 anos, dois filhos, foi morto à facada por membros do IRA perante mais de 70 testemunhas. Apesar disso, ninguém está disposto a testemunhar em tribunal, devido à lei do silêncio que constituiu uma das bases da luta de séculos que os católicos irlandeses travaram contra o domínio britânico..Mas a atitude americana tem implicações mais vastas. Todos os anos, a comunidade de origem irlandesa celebra o dia de São Patrício (amanhã). Há 70 milhões de americanos que se consideram de origem irlandesa, daí que todos os gestos dos principais líderes, em Washington, relativos à política interna irlandesa, sejam observados à lupa. A opinião pública americana, ao longo da história, apoiou fervorosamente a luta do IRA , sendo a sua principal fonte de financiamento..Com o processo de paz, o dinheiro começou a chegar em menores quantidades. Mas a campanha das irmãs McCartney alterou de vez a atitude tradicional dos dirigentes americanos em relação aos independentistas católicos. A Administração Bush, este ano, encontra-se com as seis mulheres na Casa Branca, mas não recebe Gerry Adams, líder do Sinn Féin, que está nos Estados Unidos a contactar apoiantes, embora sem poder reunir fundos..O Departamento de Estado já explicou que a opção de não recolha de fundos pertence ao próprio, mas o Times de Londres noticiou (informação desmentida pelo Sinn Féin) que os republicanos foram avisados de que toda a recolha de fundos, este ano, seria considerada "inaceitável"..A campanha das irmãs Mc-Cartney está a conseguir um impacto sem precedentes. Em poucas semanas, as cinco mulheres (Gem-ma, 41 anos, Paula, 40, Donna, 39, Catherine, 36, e Claire, 26) deram mais de 500 entrevistas, tendo conseguido importantes apoios políticos externos, por exemplo, do primeiro-ministro da Irlanda , Bertie Ahern.."Não é bravura", explicava Gemma, numa entrevista à AFP. "Somos empurradas pelo amor ao nosso irmão. É por isso que o processo judicial é tão importante, senão Robert terá morrido para nada." Além de Bush, as irmãs vão encontrar-se na Casa Branca com o senador Ted Kennedy e com Hillary Clinton.