Segurança e camisas de folha de ananás na cimeira APEC

Governo aconselha população a permanecer em casa. Suprimidos 1400 voos.
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Mais de 30 mil soldados e polícias nas ruas de Manila, com muitas das principais artérias fechadas ao trânsito, cancelamento de 1400 voos comerciais com origem ou destino na cidade, estabelecimento de zonas interditas na costa marítima e no espaço aéreo, além da declaração de um feriado nacional - com o objetivo declarado de reduzir ao máximo os movimentos de estudantes e empregados. E de modo geral, a população foi aconselhada a permanecer em casa. Tudo isto por causa da Cimeira APEC (sigla em inglês para Cooperação Económica Ásia-Pacífico) que decorre hoje e amanhã neste país do Sudeste Asiático.

Estas medidas resultam da presença na capital filipina dos chefes do Estado e do governo dos 21 Estados que integram a APEC, tendo ainda sido decretado o fecho ao público da Cidade Velha de Manila, para permitir uma visita das mulheres dos dirigente políticos presentes na cimeira. Mais controversa e criticada foi a decisão de retirar das ruas da capital "largas centenas de sem-abrigo, entre os quais 140 crianças", para não transmitir da cidade uma imagem negativa, referiu ontem em comunicado a Human Rights Watch (HRW). No documento, a HRW afirma, citando o Departamento de Segurança Social e Desenvolvimento filipino, que "mais de 20 mil pessoas foram tiradas das ruas nos últimos meses", tendo umas sido realojadas fora da cidade, mas na área metropolitana, e outras enviadas para fora.

A cimeira está a originar uma vaga de protestos em Manila, organizada por grupos que contestam a utilidade da sua realização e criticam o modelo económico da APEC.

Como sucede desde a cimeira de 1993 nos EUA, o encontro de Manila ficará marcado pela escolha de um traje ligado à história e cultura do país anfitrião. Na foto de família, os 21 dirigentes envergarão a tradicional barong tagalog, camisa longa usada por fora das calças pelos homens, feita com fibras das folhas da planta do ananás. É vestida, essencialmente, em ocasiões solenes. As camisas envergadas pelos líderes da APEC, em que foi também empregue seda para as tornar menos ásperas ao contacto com a pele, é da autoria de Paul Cabral, reputado costureiro filipino. Neste caso, os bordados que costumam adornar a frente da barong tagalog irão remeter para aspetos associados a cada um dos 21 países.

As preocupações com a segurança e o terrorismo são evidentes, mas os atentados de Paris e o perigo que representa o Estado Islâmico (EI) não serão especificamente abordadas na cimeira, explicou o ministro dos Negócios Estrangeiros filipino, Albert del Rosario. As Filipinas, assim como outros países que integram a APEC, caso da Indonésia e Tailândia, conhecem ou conheceram no passado movimentos de guerrilha ou grupos terroristas islamitas.

O representante da diplomacia filipina garantiu que a cimeira permanecerá centrada na agenda planeada. Nomeadamente, serão abordadas as as questões da Parceria Trans-Pacífico (TPP, na sigla em inglês) e da iniciativa semelhante, a Área de Comércio Livre Ásia-Pacífico (FTAAP, em inglês) proposta que resultou da cimeira do ano passado em Pequim. A TPP já foi assinada por 12 das economias da região, entre as quais os Estados Unidos e Japão, tendo as Filipinas, Indonésia e Coreia do Sul expresso interesse em aderir. China, Rússia, Canadá e Austrália são outras das principais economias da APEC

O projeto da FTAAP, que pretende abranger a totalidade das 21 economias APEC, será também debatido, tendo sido acordada, a nível ministerial, a realização de um estado a ser completado até final de 2016. O estudo deverá definir as modalidades da concretização da FTAAP "no menor período de tempo possível", lê-se no comunicado da reunião dos ministros da Economia realizada antes da cimeira.

As tensões no Mar do Sul da China, em que vários membros da APEC têm reivindicações territoriais, será o principal tema no plano político-diplomático.

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