Seca e pesca excessiva tornaram lampreia um produto raro e caro

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Comer lampreia pode custar 32 euros por pessoa

A época da lampreia está cada vez mais curta: os períodos de seca e a pesca excessiva determinam que sejam cada vez menos e mais caras. Em Março, vários festivais gastronómicos da região permitem aos apreciadores a degustação desta (cada vez mais) rara iguaria. A época da lampreia decorre até ao mês de Abril mas a falta de água nos rios está a deixar os pescadores da região do Médio Tejo pessimistas. A seca dos últimos anos transformou a lampreia numa iguaria ainda mais rara - com reflexos nos preços e também na economia local.

No entanto, e apesar dos preços proibitivos, junto à barragem de Belver, na freguesia de Ortiga, Mação, os restaurantes especializaram-se na confecção deste ciclóstomo e a fama granjeada ao longo dos tempos continua a arrastar clientela de todo o País nesta altura do ano e a assegurar uma boa fonte de receita.

No Kabra's e na Lena da Barragem, os restaurantes mais procurados em Ortiga, uma dose "normal" atinge os 25 euros por pessoa.

Para grupos de amigos, Manuel Mariquitos, proprietário do Kabra's, serve uma lampreia inteira com cerca de 1,3 quilos ao preço único de 60 euros, com acompanhamento, bebida, sobremesa e café incluídos, ao passo que Helena, da Barragem, pede 32 euros por pessoa "para quem quer comer à discrição".

"Todas as semanas", garante, "chegam do Norte 90 a 100 quilos de lampreia e com elas vivinhas. Depois tenho de a esconder no rio, em viveiros muito protegidos, porque senão vão lá roubá-la". Segundo disse a proprietária do restaurante "chegam pessoas de comboio de Lisboa, do Norte e do Algarve, comem até querer e apanham o comboio outra vez".

"Este ano ainda não se viu nada no Tejo", contou ao DN Luís Grilo, pescador profissional há mais de 50 anos. Morador em Tramagal, conta que "só junto ao açude" insuflável de Abrantes "apanharam meia dúzia delas, se tanto". Segundo disse, "o rio não leva água e as poucas que aqui chegam não passam para montante porque não conseguem saltar o açude. Mas o problema está mais para baixo com as redes todas que para lá estão e que não deixam passar a lampreia para a desova".

Em Ortiga, no concelho de Mação, anos houve em que pequenas aldeias sazonais de pescadores de lampreia se aglomeravam junto à barragem nesta ocasião. "Havia para todos e sobrava para congelar e deitar à água", contou ao DN o "Zé da Barragem", um pescador de Ortiga. "Hoje já não conto com a lampreia para viver e só em Abrantes consigo apanhar qualquer coisa. Já não vale a pena", lamenta-se.

Apesar da crise, os pedidos de encomendas continuam a chegar e os pedidos de reservas de mesa chegam a ser feitos com semanas de antecedência, não vá o restaurante estar lotado no fim-de-semana que se adivinha ser para "tirar a barriga de misérias" e comer lampreia "até mais não". D. Helena aconselha sempre marcação prévia embora diga que nunca teve falta de lampreia.

Apesar da raridade desta "iguaria", também o proprietário do restaurante Kabra's Bar refere que a procura continua a ser "mais que muita". "Aqui nunca faltou lampreia. Venha lá de onde vier", diz.

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