Seat vendeu em Portugal 23 mil carros com kit fraudulento
Segundo o Diário Económico, que cita fonte oficial da empresa, a Seat Portugal, que faz parte do grupo Volkswagen, vendeu em Portugal 23 mil carros com o sistema que falseava as emissões poluentes - o que eleva para117 mil os carros em Portugal afectados.
A Seat Portugal já tinha esta semana anunciado a suspensão das vendas de 50 carros, que ainda estavam nos stands, com o motor EA189 e que estão a ser analisados pela Volkswagen para averiguar se estão equipados com o 'software' manipulador de emissões poluentes. A suspensão da venda dos únicos 50 carros em 'stock' com o motor em causa "é uma medida de prevenção até se averiguar esta situação relativamente aos motores".
O distribuidor para Portugal das marcas do Grupo Volkswagen, a SIVA, já tinha revelado que existem 94.400 veículos equipados com motores Euro 5 no país envolvidos no âmbito do escândalo relacionado com a manipulação das emissões de gases poluentes.
Do total, 53.761 são veículos da marca Volkswagen e Volkswagen Veículos Comerciais, 31.839 veículos da marca Audi e 8.800 veículos da marca Skoda.
A SIVA salientou que "os problemas reconhecidos não afetam a segurança dos veículos em causa nem representam qualquer perigo para a circulação automóvel".E acrescentou: "Todos os veículos novos a serem comercializados em Portugal respondem aos requisitos legais e aos padrões ambientais em vigor".
A Volkswagen e todas as suas marcas afetadas apresentarão em outubro às autoridades correspondentes as soluções e medidas técnicas para os veículos com um motor diesel EA 189 manipulado.
Todas as marcas do consórcio afetadas vão ativar páginas nacionais na internet onde os clientes poderão informar-se da situação.
E as obrigações fiscais da Volkswagen?
O ministro da Economia afirmou ontem que o Estado vai zelar pelo cumprimento das obrigações fiscais da Volkswagen, caso seja detetada a existência de impostos que não foram pagos, e salientou que os consumidores "não podem ser penalizados".
Questionado se o Governo admite sancionar as marcas, caso se venha a detetar que houve impostos que não tenham sido pagos devido à fraude, António Pires de Lima disse que sim. "Como é óbvio, todos os incumprimentos, tanto do ponto de vista ambiental, do ponto de vista fiscal como de outra natureza, que possam ter existido têm de ser corrigidos", disse o governante, que falava na conferência de imprensa após a última reunião do Conselho da Indústria desta legislatura.
"Nessa matéria, o Estado vai zelar pelo cumprimento das obrigações fiscais da Volkswagen como de qualquer outra empresa que exista no mercado português", acrescentou. Pires de Lima reiterou "com segurança" que os detentores dos veículos com 'kit' fraudulento que "foram levados ao engano, não podem ser penalizados numa matéria como esta".
O que o governo não esclarece é o que vai fazer em relação às ajudas públicas concedidas à Autoeuropa. A fábrica portuguesa de automóveis VW recebeu ajudas estatais, em abril do ano passado, no valor de 36,15 milhões de euros. O montante fazia parte de um investimento superior a 600 milhões de euros, que previa a introdução de uma nova tecnologia de produção a aplicar às novas gerações de carros. O DN/Dinheiro Vivo questionou o Ministério da Economia sobre a possibilidade de avançar com um processo contra a VW, se a produção da Autoeuropa for afetada na sequência do escândalo das emissões. O ministério respondeu que "estão garantidos todos os contratos de investimento com a Autoeuropa" e que a atividade na fábrica de Palmela "continua a decorrer de forma normal".
Mais uma chuva de notícias a abalar a Volkswagen.
No dia em que Matthias Müller, já com as conclusões do inquérito interno nas mãos, vai juntar a equipa para determinar responsabilidades, a Audi, a marca de luxo do grupo alemão, anunciou que vai processar a casa mãe. E em França, o governo seguiu o exemplo de Espanha e vai exigir o reembolso das ajudas públicas que foram concedidas para a compra de veículos "verdes". A VW "não voltará a ser a mesma depois da transformação que se impõe", reconhece Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças.
O processo da Audi contra a VW, por alegado delito contra o direito penal alemão, já deu entrada no Ministério Público de Ingolstadt, cidade onde a Audi está sedeada, noticiou a agência EFE. A fabricante automóvel, que tem 2,1 milhões de carros equipados com o software de manipulação, espera, com esta ação, "contribuir para o processo de esclarecimento" no caso da fraude das emissões de gases poluentes, disse, citado pela agência espanhola, um porta-voz da empresa. "Não toleramos nenhuma prática empresarial que viole a legislação", acrescentou.
Em Wolfsburg, na sede da empresa, a noite foi longa - os executivos de topo da VW ficaram a conhecer os resultados de uma investigação interna, conduzida depois de ter sido denunciada a fraude nas emissões. Segundo a Reuters, o comité terá recebido um representante da sociedade de advogados norte-americana Jones Day, que irá liderar uma investigação externa. A informação não foi, porém, confirmada oficialmente pela VW.
O governo francês também vai tomar medidas contra a VW. Em França, há quase 950 mil carros afetados pela fraude das emissões. "Quando a compra de veículos, supostamente ecológicos, levou ao pagamento de ajudas estatais, essas ajudas têm de ser reembolsadas", disse a ministra da Ecologia, Ségolène Royal. Paris ainda está a avaliar a quantidade de carros pelos quais irá pedir o dinheiro de volta, já que nem todos resultaram em ajudas públicas. "Com base nessa avaliação, vamos apresentar a fatura à VW."
Volkswagen já corta na produção
Com tudo o que está a acontecer, o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, não tem dúvidas: "No final, a VW não será a mesma empresa. Vai mudar muito numa perspetiva estrutural." Ainda que o governante garanta que a crise no gigante da indústria automóvel na Alemanha não terá efeitos negativos sobre a economia alemã, a verdade é que já se sentem diferenças no funcionamento da empresa, que emprega quase 600 mil trabalhadores por todo o mundo.
A fábrica de motores da localidade de Salzgitter, que produz diariamente cerca de 7100 motores a gasóleo e tem sete mil trabalhadores, reduziu um turno extraordinário semanal para baixar a produção. Já a filial de serviços financeiros, a Volkswagen Financial Services, vai interromper as novas contratações até ao final do ano e não irá renovar 30 contratos temporários que expiram neste ano.