Se Obama conhecesse Marcelo veria nele "uma alma gémea"
Convicções sinceras, capacidade para comunicar, usar o "nós" em vez do "eu" e disponibilidade para assumir riscos em vez de jogar sempre pelo seguro - estas são as características que fazem de Barack Obama um líder único e que o ex-embaixador norte-americano Robert Sherman encontra também no presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa.
No livro Dez Milhões e Um - uma visão sobre os portugueses do embaixador de Obama no nosso país, que esta tarde é lançado em Lisboa (Museu Nacional de Arte Antiga, 18.30), o ex-embaixador não evita a comparação entre o antigo presidente americano, um "daqueles talentos que surgem um apenas por geração", e o atual presidente português. Não por acaso, aliás, o livro será apresentado por Marcelo Rebelo de Sousa e Nuno Rogeiro.
No capítulo sete, intitulado "Dois presidentes", Sherman lembra o seu primeiro encontro com Obama, um almoço informal, em novembro de 2006, quando era ainda senador mas já começara a circular o rumor da sua candidatura a presidente: "Curiosamente, discutimos tudo menos política", conta. "Eu imaginara que o objetivo da reunião seria de cariz político. Obama falaria nos aspetos políticos de uma corrida à presidência e concluiria pedindo-me ajuda para angariar dinheiro para a sua campanha. Mas esse tema nunca foi abordado. Era manifesto que se distinguia claramente dos políticos habituais. O que procurava era inspirar um movimento e encontrar um grupo coeso de pessoas com ideais semelhantes em torno do qual construir uma organização."
Um ano depois, Sherman foi convidado a fazer parte de um grupo restrito, de cerca de 30 pessoas de todo o país, "para dar início ao trabalho de organização de uma campanha". Nesse segundo encontro, Obama sublinhou que ia ser uma campanha disciplinada em que todos os envolvidos necessitavam de se empenhar no objetivo comum. Qualquer um, por mais experiente ou essencial que parecesse, seria convidado a sair caso procurasse curto-circuitar a estrutura instalada, ou contactasse os media por sua iniciativa. Além disso, havia tolerância zero para lutas intestinas ou facadas nas costas. Isto conduziu à adoção do lema: No drama with Obama."
Entre as qualidades de Obama, destaca o facto de ser focado, algo que o "impede de embandeirar em arco com os sucessos, mas também de desanimar com os fracassos", e de acreditar na integridade e na honestidade. "Costuma-se dizer que a presidência muda uma pessoa. Mas o Barack Obama que conheci nesse primeiro dia era o mesmo que deixou o cargo
oito anos depois. Possuía uma extraordinária capacidade de se ligar às mais profundas aspirações das pessoas, inspirando-as a acreditar na possibilidade de grandes feitos. Essa ideia foi perfeitamente encarnada no seu lema de campanha Yes, we can."
"Pelo facto de eu considerar Barack Obama um líder de talentos únicos, nunca esperei encontrar outro político capaz de encarnar características semelhantes. Mas encontrei-o, na verdade. Em Portugal", diz Robert Sherman, que foi embaixador do EUA em Lisboa entre 2014 e 2017. Esse político é Marcelo Rebelo de Sousa que, tal como Obama, ele conheceu antes ainda de ele assumir a presidência: "Percebia instintivamente que os Portugueses tinham vivido uma crise financeira que exigira uma boa dose de sacrifício e necessitavam de que os seus líderes políticos lhes garantissem que os seus esforços não haviam sido em vão, demonstrando-lhes que o futuro era na verdade muito mais risonho. Tal como o Presidente Obama, que fizera campanha em prol da eliminação da disfunção partidária de Washington, Marcelo parecia querer promover o consenso e sarar as divisões."
E conclui: "Só tenho pena de o Presidente Obama ter concluído o seu mandato antes de conseguir conhecer o Presidente Rebelo de Sousa. Teria encontrado uma alma gémea e alguém que poderia constituir um verdadeiro parceiro num mundo mais estável e próspero."